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22 de dez. de 2011

Efêmero adeus


Então me pergunto porque você foi embora. Não que tivesse me feito promessas. Muito menos eu prometi qualquer coisa a você. Mas acho que foi exatamente por isso que te amei – por apenas algumas horas, mas amei: porque não houve expectativas. E por não existir nada que me prendesse a você, naquela noite te amei. Depois esperei não esperando que você se tornasse um adeus. E você acabou mesmo indo, sem que eu quisesse que partisse. Foi como se sua presença tivesse se dissolvido no tempo. Sequer precisou se despedir. Você também não fez questão disso. Nem eu queria ouvir.

Não sei se minto para mim mesma quando penso que te amei. Não sei se eu continuaria achando que houve amor se você não tivesse ido. A verdade é que você nunca sequer ficou. E meus sentimentos nada mais foram do que projeções flutuantes, que só se manifestaram por eu saber que você nunca esteve ali. Se eu tivesse certeza sobre você, talvez jamais tivesse te amado. Nem mesmo por poucas horas que fosse.

Agora não sei se te amei ou se apenas inventei, para tapar um buraco de sentimentos que nunca existiram. Não sei se te amei porque quis, porque precisei, ou apenas porque senti te amar. Não sei nem mesmo se senti o que quer que fosse. Mas você foi embora. Eu nunca irei saber.

16 de dez. de 2011

Desejos insaciáveis


E então, com meu carisma eu lhe conquistei. Mandei flores, bombons. Olhava para você como se fosse uma joia rara. Você acreditou. Eu sabia que não podia, mas mesmo assim lhe desejei, queria você para mim.

Usei do charme, das palavras ditas na hora certa, do sorriso e até do sexo para me aproximar. Cheguei rápido e arrebatei seu coração. Não esperava, até também passei a acreditar naquela ilusão. Mas assim como entrei de repente, recobrei a consciência em pouco tempo. Voltei ao normal. Ao meu normal.

Olhei para você e vi uma pessoa linda, mas que eu usei. Experiência, creio eu. Tentativa de ser feliz. E fui por aqueles breves momentos que passamos juntos. Que pareceram uma vida. Uma eternidade.

Isso que eu não queria: que fosse eterno. É um desejo louco que tenho de querer o que não posso. Como um diabético que quer um bolo. Preciso me remediar para saciar esse desejo, que sempre vou ter, que não tem controle. É maior que eu.

Ao ver o seu corpo, lembro disso. Não posso, não devo, mas vou atrás. Me delicio na sua pele e depois vou embora. Mas não é como se nada tivesse acontecido. Pelo contrário. Vou embora sabendo que eu posso desejar, que eu posso querer, que eu posso ter.

Não devo fazer isso com você, mas a sua silhueta ao me amar, o seu rosto de satisfação com o prazer que proporciono e seu sorriso ao gozo me fazem voltar. Voltarei sempre. E farei você feliz novamente. Mais uma tentativa. E sei que estará lá para os meus caprichos e os meus desejos. Momentos de loucura.


8 de dez. de 2011

Labirinto




Meu coração é um labirinto. Onde todas as vezes em que acredito ter me achado, eu me perco de novo. Me coração é um imenso labirinto que talvez tenha muitas saídas. Mas não sei onde nenhuma delas está. Não faço ideia de onde possam dar.

Pequenas memórias perdidas
Um dia me embriaguei, me droguei demais, achando que assim me sentiria livre. E acordei na cama de uma pessoa que eu sequer conhecia 24 horas antes. Como sempre acontece em meus sonhos indesejados, fechei os olhos com muita força implorando para que quando eu os abrisse, visse meu quarto à minha volta. Deitada na cama em que sempre reclamei dormir todos os dias.

Mas diferente do que acontece em meus sonhos, meu desejo, por mais intenso que fosse, não foi atendido. E acordei ali, em um lugar que eu não conhecia. Transformei meu labirinto em uma prisão que me persegue onde quer que eu vá. E minha casa, meu quarto, que tanto reclamo por me aprisionarem, talvez sejam meu único refúgio.

Mas não posso suportar a ideia de ser tão dependente das mesmas pessoas, de um mesmo e único lugar. Talvez minha vida seja um eterno procurar saídas que nunca chegaram a existir. Talvez me sinta tão segura a ponto de ficar completamente perdida. Talvez eu precise quebrar alguns muros para fugir de mim.

Cegueira
Meu coração é um imenso labirinto, tão grande, que muitas vezes me canso. E sonho poder me abandonar apenas alguns minutos, só para respirar um pouco o ar fora dali. Mas não há abandono e me encolho nos cantos. Busco abrigo nos cantos de mim.

Talvez exista outro lugar sem tantas paredes que tapem minha visão. E eu poderia admirar o horizonte, sem nenhum muro de concreto à minha frente. Queria poder enxergar o céu, o mar, as flores, de forma que meus olhos limitados não veem. Limitados ao labirinto em que sempre me perco.

Meu coração é um imenso labirinto que não me deixo enxergar a vida. Meu coração dói: tantas e tantas vezes, e eu sequer sei porque. Talvez meu labirinto não caiba em mim...

4 de dez. de 2011

Pseudo-atriz?




Sempre quis interpretar, acreditando que assim encontraria uma possibilidade de ir além de mim. Até perceber que não sei atuar. Meu desejo sempre foi me libertar de mim mesma, das amarras que me imponho sob justificativa de uma sociedade que tudo regula e nada aceita. Fingir ser outra pessoa de nada adiantaria, quando tudo que eu queria, tudo que me bastaria, seria ser eu mesma.

Encontrei como solução berrar o que sou e usar como desculpa a atuação. Mas não sou uma personagem. Todas as palavras que grito são minhas. Todos os movimentos de meu corpo são meus. Talvez eu seja egoísta demais para emprestar minha alma a outra personagem, além dos vários eus que posso ser – e sou o tempo todo.

Demorei tanto tempo querendo encontrar um lugar para mim, até perceber que esse lugar não existe. Existe apenas o que há dentro de mim. O meu lugar sou eu mesma, independente do lugar em que eu estiver. E não há espaço para interpretações nesse espaço. Não as deliberadas.

Ou digo uma mentira, já que me interpreto todos os dias?

3 de dez. de 2011

Monstra

Foi parida. Cuspida à vida com muitos olhos, ouvidos e corações. Uma anomalia da natureza, passou a infância com vergonha de si mesma, repudiada em ambiente hostil. Não se encontrava onde vivia. Teve o primeiro orgasmo aos 7 anos, na quina da cama, com uma foto do Márcio Garcia.

A monstra cresceu. Sem deixar que a repressão corrompesse sua alma. Mas nunca deixou de tentar (ou fingir querer) corromper os sentimentos. E para extravasar todo amor que sempre sentia, escrevia poemas que nunca diziam nem nada diriam. O sentimento não se explica nem se prevê. Apenas se sente.

Todos os dias se apaixonava. E sofria. E mentia para si mesma,quando dizia para quem quisesse ouvir que odiava o amor. Julgava os outros por dizerem o que não condizia com suas perturbações mentais. Mas não entendia que sua mente também perturbada a enganava, e sem perceber, ela mentia.

(anotação n° 1)
Procurei no dicionário a definição de “ódio”. Tomei um susto quando uma das primeiras palavras listadas foi “amor”.

Não há lógica nem razão em discursos sobre o amor. E só para lidar com a dor, a monstra queria – mesmo sem querer – uma satisfação do sentir. Ela dizia sonhar em manipular mentes - seria mais fácil. Mas jamais suportaria uma essência humana que permitisse a submissão de seu coração à manipulação. Medíocre e limitada demais para ela.

Ouvia demais e se assustava com o tudo que escutava. Via demais e ficava na dúvida se realmente via. Falava demais sobre o que sentia. Mas para sua sorte, podia canalizar tudo isso nos vários corações que tinha. E nas inúmeras formas diferentes de amar, que sempre descobria.

A monstra poderia ser uma eterna sofredora deslocada. Mas em vez de se esconder e lamentar, foi à rua e vive a vida. E digo que apesar de toda sua loucura, esquisitice, idiossincrasias... invejo e amo a monstra que tem tantos corações e consegue se apaixonar todos os dias.

(anotação n° 2)
Posso encontrar no dicionário a definição da palavra “inveja” como “a autoprojeção que não se manifesta em mim”? A monstra também sou eu. Mas em outro sentido. De outras maneiras.