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17 de jan. de 2012

Despeito feminino



Admito que meus posts andam levemente cafonas-reflexivos. Eu tinha prometido a mim mesma que não criticaria mais os outros, muito menos quando esses outros são caras com quem eu fico ou já fiquei – até porque eles entraram em uma de ler esse blog, logo, não ia ficar muito legal caso se deparassem com uma esculhambação de minha parte. O fato é que foda-se, cansei de segurar a língua em busca de elevação interior. Venho na próxima vida como um ruminante que mastiga capim para ver se consigo me elevar espiritualmente. Até lá, parei de chorar minhas crises depressivas nesse espaço, vou choramingar na cadeia ou no travesseiro, que é lugar quente.

Verdade seja dita, o Mulheres que Bebem bombava muito mais quando eu escrevia meia dúzia de merda. É disso que vocês gostam, né? Di sacanagi. Então, como eu também gosto, vamos à dita cuja que é o que interessa. Mas antes, gostaria de pedir a colaboração de nossos leitores no desenvolvimento desse blog de finura ímpar. Sugestões de pautas, relatos da vida pessoal, críticas de um amigo corno, pedidos de conselhos, qualquer coisa serve. Não que eu tenha me tornado o guru portador da total sabedoria terrena. Mas é que eu gosto de causar polemicagem, semear a discórdia é uma arte para poucos.

Vamos ao que interessa
Então vocês se perguntam, “e o título desse post”? É o seguinte: é mole meter o malho apenas no gênero portador de um falo que balança, como se as xaninhas em chamas fossem referência de perfeição. Não, isso não é correto. E só para não falarem que sou um ser injusto, o objetivo hoje é esse mesmo, falar mal de mulher.

Vamos ser francos. Sofremos – e muito - com um estereótipo de beleza que não é viável para 99% das fêmeas saudáveis, não geneticamente modificadas, cirurgicamente transformadas, quimicamente tratadas ou atochadas de silicone e botox. Ainda assim, adoramos criticar as rolicinhas. Adoramos falar mal do cabelo da outra. Achamos defeito na porra da unha encravada no dedão do pé da biscate oxigenada. Crescemos em uma sociedade a qual fomos condicionados a vida toda a acreditar em um padrão de beleza que não existe. Nos matamos para ficar o mais próximo disso, e as pobres que não conseguem – ou simplesmente não se importam e por isso merecem todo o meu respeito – são esculhambadas. Ô racinha desunida.

Não tem coisa pior do que o clássico comentário “Aquela gorda se acha a gostosona”. Pois minha querida, sabe por qual motivo você, que não tem nada a ver com a vida da tal gorda, se importa tanto e perde tanto tempo criticando a pobre coitada? Porque você, que no fundo se acha uma porcaria, com a auto-estima arrastando no chão, não aceita que a gordinha seja feliz apesar de ser gordinha e fica com raiva dela. Não pense que estou inventando isso não, pois até Freud explica. Sabe como ele caracteriza esse comportamento? Projeção, minha cara. Projeção.

Para que você se sinta bem, você precisa se matar na academia, passar fome e mofar em clínicas estéticas. Ou então você pode até não fazer nada disso, mas não está feliz com o que olha no espelho. Logo, que absurdo uma mulher ser desencanada e largar um foda-se para o mundo. Absurdo mesmo, já que ela se veste como bem quer e bem entende, pois está feliz com seu corpo que, apesar de não ser igual ao das magricelas bombadas das revistas, também é bonito – senhores antropólogos, me ajudem a explicar o conceito de boniteza, por favor, antes que alguém me bata.

Pois bem, minhas queridas, aí vocês ainda dizem: “se fosse bonita eu admitiria, mas ela é feia, falo mal mesmo”! Sinto informar, mas você não é menos despeitada por isso. O mais engraçado é quando as críticas partem de jovenzinhas que também não estão lá essas coisas dentro do padrão de beleza sugerido pela indústria cultural, e não percebem que são o clássico exemplo do sujo falando do mal lavado.

Exemplo recente


Um belo dia, ao adentrar minha residência trajando uma saiazinha na linha tchutcholina-vagaba-quer-você, recebi um belo elogio de uma de minhas tias, que fez a seguinte observação: “Ela é tão bonita, novinha, fica linda nessas roupas. Mas ridículo é quando uma dessas velhas acha que pode se vestir igual garotinha. Semana passada fui a uma festa e vi uma conhecida com um vestidinho, de salto alto, achando que era menina! Aquela ridícula, que raiva dela!”.

Isso mesmo, meus caros. Ela disse “raiva”. E sabe por que ela ficou com raiva? Porque a velha também estava doidinha para colocar aquela rabeta dela de fora, mas por não ter competência para isso, já que acha que não pode (e eu só queria saber o quê, além do preconceito dela, a impediria de fazer isso), ela mete o malho na outra. Aposto que minha tia seria muito mais feliz se tivesse vestido minha saia de piranha e saído por aí, sorridente e contente rebolando a bunda murcha, cagando na cabeça de quem pensasse mal dela por causa disso. Pessoas assim, meus caros, essas sim merecem meu total respeito e admiração. Afinal, colocar rabão durinho e empinadinho para jogo é mole, né?

Enfim, em vez de ficar igual uma tarada-preocupada-com-a-aparência (que está bem longe da moçoila da capa de revista), a mulher deveria se preocupar mais em investir seu rico dinheirinho em cultura. Vá para o teatro, cinema, vá comprar livros, vá para o raio que o parta, mas pare de encher a porra do meu ouvido falando das suas celulites e das celulites das suas amigas – que sempre são piores que as suas.

Aí, você se defenderia dizendo que homem é tudo igual, só pensa no exterior da mulher, logo, se você não se cuidar, não pega nem resfriado debaixo de uma nevasca. Bem, seria muita hipocrisia da minha parte dizer que o exterior não conta. Mas se o cara SÓ PENSA NISSO, minha querida, sinto informar: ele é um babaca que não merece meu respeito, muito menos momentos ímpares de prazer com minha pepeca sapeca e muito bem cuidada.

E para finalizar, o conselho utópico (porém verdadeiro) da ordem do dia: em vez de se preocupar com bundas grandes, querida, se preocupe em ser uma pessoa melhor, porque um dia, de um jeito ou de outro, a sua bunda vai cair, isso é fato. Mas você pergunta: Devo me tornar uma relaxada? Claro que não. Se cuidar faz bem para a auto-estima. Mas é preciso haver limites. Admito que sou patologicamente vaidosa. Mas pelo menos eu me critico e questiono – bastante - por isso, o que já é alguma coisa.

Logo, meninas, parem de falar mal das outras meninas porque elas estão felizes como são. Ou não. Liberte seus cabelos crespos (que eu acho lindos), mostre suas gordurinhas, não coloque três quilos de pó na cara toda vez que sair de casa, não gaste todo seu dinheiro com roupas caras. E o mais importante: Não critique as moças que são bem resolvidas a ponto de não se importarem com essas baboseiras todas. Abaixo a maledicência. Cada um com seu cada um. Afinal, como já disse o grande poeta brasileiro Paulo Leminski, “No dia em que merda for merenda, pobre de mim que nasci sem cu!”.

5 comentários:

  1. Gostei do post!!!
    Sofri muito com isso praticamente minha vida inteira. Muitos pegavam pesado mesmo, sofria, não me sentia bem. Optei radicalizar e criei coragem e fiz a cirurgia de redução do estômago...Fiz mais por minha saude claro, mas as mudanças valeu muito também por esse ponto...só quem passa por isso vê como pe incrivel a visão das pessoas agora...sou super atendida em lojas, restaurantes, na rua...
    Estou bem melhor assim...auto-estima agora eu conheço!!! =]

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  2. TENHO Q ADMITIR QUE VC DESSA VEZ SE SUPEROU NO TEXTO.....

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  3. AÊÊÊÊÊ Eu simplesmente amei esse post!E digo mais,sou magrela de natureza e super defendo as gordinhas e qualquer outro tipo de beleza feminina.Gaby Amarantos que nos sirva de exemplo!

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  4. Ótimo texto, tem mais que soltar a verbo mesmo. Gosto dos seus textos pela sinceridade e espontaneidade. Hoje há um verdadeira indústria das aparências e infelizmente são as mulheres que mais sofrem com isso, com uma pressão por serem lindas (nos padrões pré-estabelecidos), trabalhadoras, mães, enfim, precisam ser perfeitas. E como é bom quando ainda encontramos mulheres lindas em suas imperfeições!

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Áhh, que fofo você comentar!!!