Sugira, critique, participe, contribua, toque uma, apareça!

mulheresqbebem@gmail.com

29 de dez. de 2010

Frustrações sexuais


Há muito não relato aqui minhas peripécias vaginais. Pois me recordei agora de um acontecimento deveras peculiar, que merece registro em tão distinto blog. Peço que nossos leitores apreciem com atenção essa narrativa, que para variar, só poderia ter EU como protagonista. Afinal, por alguma razão metafísica de proporções escatológicas que desconheço, esse tipo de coisa só acontece comigo.

O início dessa crônica é igual a todos os outros: “estava eu em um evento, enchendo o rabo de líquido que contém elevado teor alcoólico em sua composição, blá-blá-blá”. Pois bem, quando resolvi retornar ao lar, às 8hs da matina, senhor meu pai estava no portão do recinto; acompanhava nosso estimado cão, que se aliviava conforme suas necessidades fisiológicas. Ao observar tão bela cena durante o crepúsculo da manhã, não consegui disfarçar minha embriaguez e fiz um belo escândalo. Não contente com o estado de choque de meu genitor, eu disse que não entraria em casa, pois ia beber mais na casa de nosso saudoso José Cuervo.

Claro que aquele espírito de porco do José se recusou a abrir a porta para mim, haja vista que ele estava copulando com uma dulcíssima donzela. E fui eu, dormir na casa de um dos meus geradores de prazer. Chegando ao lar do adorável pimpão, constatei que todos os seus residentes estavam acordados, o que não me impediu de fazer novo escândalo. Após homérico vexame, caí na cama mais bêbada que um gambá, sem sequer pensar na possibilidade de transar, já que a porta do quarto estava sem tranca e podia-se ouvir o som das crianças gritando e dos cachorros latindo, durante um divertido café da manhã em família.

Quando eu já estava quase no milésimo sono, veio a alma sem luz, cheio de amor para dar, e eis que não resisti. Claro que deveríamos fazer algo na descrição, e conhecendo meu estilo “cocotinha escandalosa”, ele implorou que eu não transmitisse nenhum tipo de ruído demasiado elevado. Ele queria ficar só de ladinho, assim poderíamos despistar caso alguém abrisse a porta bruscamente. Mas como não sou dessas de calmaria na hora do amor, comecei a me empolgar, para desespero do jovem rapaz.

Após chegar ao ápice do prazer, cismei que queria ficar em cima. O fato de ele tentar negar não me impediu de subir em seu corpitio, dar uma forte rebolada e ouvir em seguida um baita CRECK da cama. Calma, ela não chegou a quebrar, mas eu fiquei puta e me neguei a continuar transando. “Agora não quero mais. Já gozei, estou satisfeita, se você ainda não resolveu seu problema, entenda-se com suas mãos”. Muito franca, eu queria mais sexo com força, mas se não ia ter sexo com força, que os dois fossem dormir na vontade, e foi exatamente isso o que aconteceu. Porque eu sou bem dessas, ruim e egoísta.

Fiquei MESMO na vontade

Eis que no dia seguinte, as chamas do prazer me possuíam e eu queria transar de qualquer jeito. Para minha sorte, anoiteceu e encontrei outro de meus geradores de prazer em uma festa, logo, pensei: “Enfim, hoje vai ter”. Na hora de irmos embora, rolou no carro uns amassos daqui, outros de lá, e quando eu estava cheia de fogo, crente, crente que ia – enfim – dar uma cruzada bem dada, adivinhem o que aconteceu??? Ele Gozou. Isso mesmo, GOZOU antes de minha pepequinha abraçar o pintinho dele.

Nem preciso dizer que fiquei possuída pelo capiroto de tanta raiva. Mandei o Mr. Rapidinho me deixar em casa e fui dormir muito, muito, muito puta das calças. Transada boa mesmo, eu não dei com ninguém. Agora, por favor, me digam, qual é o meu problema? Um não me come direito, o outro dá uma cuspidela antes de me comer, e não vamos esquecer aquele fato narrado aqui num post anterior, em que o engraçado sequer conseguiu animar o bilauzinho, porque broxou, BROXOOOOOOOU.

Sinceramente, acho que no dia em que um homem me pegar de jeito (ou pelo menos me pegar direito), eu me apaixono. JURO.

25 de dez. de 2010

Observações natalinas


Estava eu ontem com minha adorável família em mais uma das sempre divertidas comemorações natalinas. Como sempre, banquei o papel de fotógrafa, porque esses adoráveis senhores (que possuem o mesmo tipo sanguíneo que o meu) não me permitem descansar nem mesmo em minha folga.

Pois estava eu lá, registrando com vários cliques, enquanto meus pimpolhos priminhos abriam felizes da vida os presentes que se encontravam embaixo da árvore de natal - deixados supostamente pelo saudoso velhinho pelancudo, de longas madeixas brancas.

Ao que, pacotes abertos, um de meus primos fez a brilhante observação: “Ta vendo aí? Depois vocês vêm falar de sociedade machista. Mas olha os presentes da Luiza e do Matheus. Enquanto ela só ganhou bonequinhas e conjuntinhos de cozinha, ele ganhou brinquedos que incitam violência, como esse boneco de luta aí. Vocês querem mudar, mas já ensinam às crianças errado desde cedo”.

Muito, muito, muito bem observado. Palmas para ele.

16 de dez. de 2010

Periquito-Homem



Ato 1


Ele me veio quando o livro sagrado foi aberto. Dentro das palavras uma dobradura em forma de pássaro, um periquito robusto e verde, com rabo de belas penas, saltou aos meus olhos, lânguido.  No momento em que permiti a tal artimanha, o bípede encheu-se de vida diante das palavras de exortação do Rei Davi ao povo de Jerusalém no primeiro livro de Eclesiastes:
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz”.
A criatura voou  para fora da página, num ímpeto de liberdade, como se fosse tempo de vir à tona, respirar o ar, tornar-se abarrotado. Se fazendo vivo e pulsante a partir do meu sonho. Ao ouvir o canto tristonho do periquito que voava pelos quatro cantos da sala, atordoado pelas palavras e pela própria canção que trazia no bico, desejei nunca ter aberto o livro e desejei mais ainda nunca ter manifestado das palavras, aquele periquito verde água tão lírico, mas sabia que já era tarde.

Ato 2 

O tempo foi passando como decretava as exortações do Rei, entretanto, nossa relação foi acutilada pela mutação dele, e sem que eu notasse, o periquito alcançara a imagem e semelhança de um homem, tão jovem quanto eu. Era curioso o sopro do periquito-homem, e agora que possuía miolo de humano e raciocínio de gente e não de bicho, cobiçava novos vôos em terra, cavando sua trajetória, cravando os pés no mundo.  Não era mais pássaro, não tinha mais bico, nem cantava mais aflito, não comia mais sementes, nem tinha medo de gente, muito menos cairia em bestas arapucas pungentes.


Ato 3

Foram tempos de muita dor. Meu cerne se encheu de martírio ao entender que o periquito lânguido e verde havia se desvairado e adquirido senso crítico. E lacrimejei, pensando que não era mais o meu sonho, agora eram os sonhos do homem-periquito. Numa ocasião em que estávamos a sós, tentei num abraço maquiavélico, reduzi-lo ao ponto de partida, a dobradura origami dentro da bíblia. Mas o periquito-homem me olhou com desconfiança e pesar, indagando os motivos do aperto forte e desmedido. Abaixou os olhos e saiu com a roupa do corpo, humano e desapontado.  

Ato 4

Dias depois, recebi um bilhete enfeitado de penas verdes água, a princípio, não pude entender em que tempo estavam os verbos, mas as palavras simples me indicaram o que havia de ser: “Pois, você me desprezou, senti que era tempo de odiar aquela que me deu o sopro da vida na ilusão, experimentei o estar vivo, lhe sou grato e lhe tenho amor de pássaro”.


Fim

O periquito-homem nunca mais voltou para casa, afastou-se de mim para sempre, não sei se por medo, tristeza, ódio, ou se talvez por amor, não sei se por saudades de céu, mato ou de mar. Foi difícil aceitar, mas, com o passar dos anos entendi que periquito-homem é de  tempo longínquo, quiçá inalcançável, antes mesmo das denominações das coisas e das palavras, antes mesmo do tempo, do intento da poesia, antes da imaginação de um sonho.


13 de dez. de 2010

Nudez

As roupas estão sufocando meu corpo, que transpira nessa tarde de dezembro. Estão úmidas, grudando na pele, limitando movimentos. Camadas e mais camadas de tecido estão impedindo que eu me sinta, não deixam meus poros respirarem. E me vem um querer que não entendo, esse querer de me despir, não importa onde eu esteja agora; estou me desfazendo de cada pedaço de pano que esconde minhas partes, meus pudores.

Mas essa pálida sensação de liberdade, que está brotando sem pretensões a cada peça retirada, esmorece com o julgamento covarde de quem não compreende o calor que estou sentindo. Ainda assim, minha vontade ultrapassa os limites do que seria sensato – essa moralidade estúpida e hipócrita – e eu insisto.

Agora, sinto uma euforia ainda maior, enquanto vou sendo invadida pelo desejo de arrancar esses trapos e jogar todos bem longe de mim. Emaranhado de linhas tão caras, talvez até mesmo para você, mas que para mim não têm valor algum. E quanto mais eu tiro, mais recriminada eu sou. O que posso fazer se está muito quente e minha carne derrete com todo esse vapor, essa umidade escaldante?

Não quero ninguém me protegendo do sol, deixem-me queimar sozinha e em paz. Mas por inveja, por despeito, quem sabe covardia, não me deixam. Ninguém está preparado para enfrentar minha nudez. E me escondo – muito – por debaixo dessas mantas, desses pêlos, dessas peles que não são minhas. E que me fazem querer gritar.

Quarenta minutos.


"Tinha então 20 e poucos anos e, alguns diriam também, sorte na vida: apesar de alguns traumas na infância - inerentes aos que passam por grandes choques, como a separação dos pais, morte de um ente querido ou ser esquecido na escola - tinha uma situação econômica tranquila, era inteligente, linda e muito simpática. Sempre rodeada de amigos, fazia até mesmo as rivais darem o braço a torcer. Não tinha quem resistisse ao charme de Júlia.

Entre o grupo de amigas de longa data era espevitada e muito querida. Todas, sem exceção, celebravam o fato da pequena ter, além de sorte no jogo, também ter garantido cedo a tal "sorte no amor". Encontrara o par ideal. "Perfeito!", diziam todos. Não deixava de ser verdade. Antes dos 30 anos, o sujeito já era muito bem sucedido. Era culto e doutor, duas qualidades muito apreciadas. Já tinha uma vida estável e não era chegado a badalações. "Onde você vai arrumar outro igual?", bradavam todas. De fato, Danilo era um exemplo de homem. Cavalheiro, gentil, inteligentíssimo - "tem até livro publicado", lembrou uma das meninas. Danilo estava mesmo na prateleira das raridades.

Quando Júlia enfim se formou, anunciou que se arriscaria na carreira de escritora. A notícia agradou a família. A mãe, respeitabilíssima e mulher de fibra, ajudaria e custearia os cursos posteriores. Orgulhava-se do talento da filha e esforçava-se para ajudar em sua educação. Conheceu então muita gente nova, começou a ser reconhecida precocemente pelo seu trabalho. A vida não poderia estar melhor.

Mas no fundo, dentro da jaula do seu coração, Júlia sabia que algo estava para acontecer. As mudanças que a vida nos proporciona são inesperadas e essa é graça em viver. Mas ela tinha medo. Olhava as mulheres que a rodeavam e percebia em cada uma peculiaridades, gostos diferentes, ousadias. Foi aí que conheceu alguém inesperadamente (e não seriam esses os melhores encontros?).

Margarida entrou no café e logo se lembrou da moça que acabara de conhecer na editora. Aproximou-se e deu um sorriso. "Posso me sentar?" A resposta afirmativa abriu precedentes para outros encontros furtivos, no meio da tarde, que a cada dia tornavam-se mais intensos e tornaram-se mais frequentes. Já não sabia o que estava acontecendo. Margarida era uma editora importante, casada e na casa dos 40 anos. Independente e moderna, reclamava sempre das crises matrimoniais, encerrando os casos com a frase "não vá casar, Ju! Isso é uma besteira". Havia se anulado.

Embora ainda viva e alegre, casou-se com um empresário mais velho, vindo de outros dois casamentos e com filhos - o que tirou dela a chance de ter os seus. Júlia, com o tempo, ficava mais intrigada: o que ainda a mantinha junto a alguém tão diferente assim? Depois do chá na confeitaria preferida, Júlia pegou o ônibus e seguiu para o Jardim Botânico, onde encontraria Danilo num sarau. No meio do caminho, ele manda uma mensagem, dizendo-se indisposto. Ela seguiu para a casa dele, onde passavam cada vez mais tempo. Ele resistia em conhecer seus amigos. Ficava em casa, em meio aos livros. Ela passava todo o fim de semana ao lado dele, riam juntos, assistiam filmes, ele cozinhava. Mas de repente, um blackout.

No escuro, ela tateava para tentar encontrar a si mesma. Danilo continuava impassível. Não fazia diferença. Ela relutou em seguir no breu. Mas ia em frente. Como todo cego precisa de um guia, deixava-se levar pelo acompanhante mais próximo, mais antigo, mais perfeito. Mas como saber o que é perfeito quando se descobre que, na verdade, nunca tinha enxergado até então? Na rua, os óculos escuros a ajudavam a barrar a claridade, violenta e penetrante. Tudo era mais vivo, mais vibrante. Tudo eram flores. E quando se trata de um jardim, é sempre assim: todos acham a grama do vizinho mais verde. Ninguém sabia da escuridão do apartamento, ninguém enxergaria luto em meio à fantasia, cada vez mais rota, desajustada, apertada, sufocante.

Acordou em sobressalto. Virou pro lado e olhou o companheiro pela última vez. Almoçaram no silêncio. Ela disse meia dúzia de palavras firmes, recolheu suas coisas e saiu. Do outro lado da cidade, Margarida chegava na praia e lembrava da menina por quem tinha... Tinha o que? Estaria apaixonada? Tentou ligar, mas o celular de Júlia tinha se perdido no caminho. Foi pra casa com a convicção de seguir encenando uma vida que erroneamente tinha acredito ser sua. Ao abrir a porta, a surpresa: o marido estava saindo de casa. Sem lágrimas e sem pudor dizia que não aguentava mais, tinha se apaixonado pela assistente e precisava de um tempo para pensar. Deixou o apartamento alugado no mesmo dia.

Margarida e Júlia marcaram de se ver na mesma tarde, no café onde se encontraram ao acaso pela primeira vez. As palavras corriam todas pelo céu da boca e como estavam embaralhadas, retornavam ao estômago e causavam ainda mais nervoso. Falaram de projeto, dos últimos acontecimentos, das expectativas. Foi Júlia quem tomou então a iniciativa: vamos até lá em casa? A paixão esperou apenas até o carro, onde estariam a salvo da hostilidade e dos olhares de reprovação."

10 de dez. de 2010

A Pica do Ming


Shunga Utamaro - Miyakawa Choshun (1682–1753), The Flowered Robe
gélida, encolhida em pano que carrega
o pincel vai pintar o gozo d’alma.
o toque úmido da língua dura
Ming traz a pica’tona.
- toma com goela! grita!

namora a coisa, atassalha
mama na manha, se assanha
ronrona de júbilo,
-hallelujah!

arromba a tua redenção,
no esguicho da pica’dura!
-ahhhhh, Ming!  

consagra-te enquanto há tempo,
ele é curto, fatal como a pica’douro,
que coisa boa não é de muito
na vida, pica passa tempo, mole fica! 

1 de dez. de 2010

Folga












Tomou um gole d'água gelado que lhe fez doer a garganta. Os olhos estavam banhados de lágrimas resistentes, que teimavam em não cair, dependuradas nos cílios longos e pretos. O bolo negro da angústia não descia, ficara estacionado no peito e acomodava-se, tomando - minuto a minuto - cada vez mais espaço dentro do corpo agora não tão mais magro, mas frágil, fraco, amarelo. Olhava de um lado para o outro. Foi à janela e soltou um urro, seco, que ninguém ouviu. Ninguém mais a via. Andava na rua com a certeza da brevidade de tudo: dos risos, dos abraços, das juras, dos planos... Menos da dor. Essa tinha se tornado estranhamente parte dela.

Seguia o caminho obrigatório e com o peso das expectativas dos outros nas costas. Perdeu-se. Tentou dar a volta, refazer a trilha... Um som grave vinha de algum lugar e a deixava calma... Como não restava mais alternativa, deixou-se levar pelo estribilho grudento como chiclé (achava graça quando falavam "chiclé"). Passou por parques, por ruínas, pelo centro da cidade inóspita e fria, apesar do calor. Viu prédios altos, viu muitas pessoas, olhou nos olhos delas... Todos abrumados, com uma cortina na frente, não se deixavam invadir por completo...

Chegou na praia. Ouviu o silêncio. O vento era algo inexplicável: pensou em como ele existe sem podermos ver, como move as coisas, mexe com as pessoas. Pensou em quantos grãos de areia existem mo mundo, em como somos pequenos perto do mar, pensou em como soam tão idiotas todas essas considerações. Pensou, pensou.. E foi sem pensar que, num ato lento e delicado, caminhou até a beira da água e entrou no mar... Como mortalha, apenas a camiseta branca, que resistiu em tirar, talvez por um pudor tardio, talvez por ter esquecido...