Tomou um gole d'água gelado que lhe fez doer a garganta. Os olhos estavam banhados de lágrimas resistentes, que teimavam em não cair, dependuradas nos cílios longos e pretos. O bolo negro da angústia não descia, ficara estacionado no peito e acomodava-se, tomando - minuto a minuto - cada vez mais espaço dentro do corpo agora não tão mais magro, mas frágil, fraco, amarelo. Olhava de um lado para o outro. Foi à janela e soltou um urro, seco, que ninguém ouviu. Ninguém mais a via. Andava na rua com a certeza da brevidade de tudo: dos risos, dos abraços, das juras, dos planos... Menos da dor. Essa tinha se tornado estranhamente parte dela.
Seguia o caminho obrigatório e com o peso das expectativas dos outros nas costas. Perdeu-se. Tentou dar a volta, refazer a trilha... Um som grave vinha de algum lugar e a deixava calma... Como não restava mais alternativa, deixou-se levar pelo estribilho grudento como chiclé (achava graça quando falavam "chiclé"). Passou por parques, por ruínas, pelo centro da cidade inóspita e fria, apesar do calor. Viu prédios altos, viu muitas pessoas, olhou nos olhos delas... Todos abrumados, com uma cortina na frente, não se deixavam invadir por completo...
Chegou na praia. Ouviu o silêncio. O vento era algo inexplicável: pensou em como ele existe sem podermos ver, como move as coisas, mexe com as pessoas. Pensou em quantos grãos de areia existem mo mundo, em como somos pequenos perto do mar, pensou em como soam tão idiotas todas essas considerações. Pensou, pensou.. E foi sem pensar que, num ato lento e delicado, caminhou até a beira da água e entrou no mar... Como mortalha, apenas a camiseta branca, que resistiu em tirar, talvez por um pudor tardio, talvez por ter esquecido...
o destino é o mar onde vou me desfazer...
ResponderExcluirryca ela, mora no arpoador!
ResponderExcluir