Primeiramente,
quero me apresentar. Sou só uma cadela-pseudo-intelectual que não entende de
porcaria nenhuma, mas que tem uma relação quase que sexual-carnal com literatura
e cinema. Manifestações artísticas em geral têm o poder de me emocionar,
fazendo com que eu chegue ao ápice do gozo. Mas aí eu já não sei se a questão é
de fato amor à poesia criada pelo bicho-homem, tão à frente do meu intelecto,
ou a falta de um cachorro nesse mundo que realize as maiores barbaridade
orgásticas durante o ato do coito comigo. Mas isso não importa.
O
que importa é essa sensibilidade que tenho. Ela me levou a fazer uma singela
observação que daria um ótimo objeto de estudo para o Tio Benjamim, que se
amarra naquele papo de “reprodutibilidade técnica” e a tal da “aura” (oh!) das
produções artísticas. Tudo começou em minha primeira visita ao Louvre. É isso
mesmo, caras e caros leitores. Sou uma cadela de classe, que mija nos postes do
Champs Elysses e pega ventinho no rabo nas bordas do Seine.
E
como qualquer canina-pseudo-intelectual que se preze, eu não poderia ter outro
sonho além do de conhecer a maior referência de exposições artísticas no mundo.
Coisa de louco. Peguei o meu roteiro e comecei a estudar as possibilidades que
eu exploraria em meu primeiro dia de visita. Sim, meus queridos e queridas,
primeiro dia, porque para os que não sabem, impossível conhecer todas as
exposições em uma única jornada. Além de o lugar ser enorme, fatalmente uma
hora você vai se cansar e começar a ficar de saco cheio, não aproveitando 100%
do que o santuário de obras dos cacuras-pop-star pode oferecer.
Aquilo
ali é uma fonte de inspiração para os desejosos em incrementar seu capital
cultural, principalmente para aqueles que gostam de fazer a linha “sou-cult-mona-refinada-entendida-de-alguma-coisa-de-história-da-arte”.
Mas o que eu não consigo entender em vocês, ex-neandertais, é essa obsessão em
ficar tirando foto até da hora em que está no banheiro cagando, o que não
poderia ser diferente, é claro, no Louvre. Mas calma. Não que eu tenha visto
alguém cagando por lá.
É
que no meio daquela formigalhada de gente-bicho-humana, o que tinha de sobra
era bípede mais preocupado em tirar foto de tudo o que via, do que tentar
entender o que estava vendo e apreciar de fato as obras. “Olha o quadro famoso
daquele cara que não sei o nome”. Flash. “Olha aquela escultura que a gente viu
na TV”. Flash. E eu, humildemente de quatro e com meu rabinho todo abanativo,
não sabia se prestava atenção na exposição ou se me preocupava em me desviar
dos milhões de cliques que eram emitidos a todo o tempo, apesar de na entrada
eu ter visto uma plaquinha que dava a entender que fotos eram proibidas. Não
consegui tirar da cabeça a ideia de que eu era transeunte no tapete vermelho em
que as estrelas de Hollywood andam no dia da cerimônia de entrega ao Oscar.
Ninguém
resiste a um clichê
Para
a minha primeira visita, escolhi, elegantemente, fazer un petit tour pela
exposição de antiguidades orientais e depois dar um rolé na de antiguidades
egípcias. Mas é claro que não poderia, de forma alguma, abandonar o
clichezão-mor-do-Louvre, que é ver o quadro da tia Mona, pintado por Da Vinci e
tão aclamado pelos sei lá quantos cantos do mundo. E foi nesse momento que me
deparei com a cena mais bizarra do dia. Não era possível chegar sequer perto da
obra (que para quem não sabe, é megapequena), porque havia uns vinte milhões de
humanos entulhados em frente. Mas longe de estarem contemplando o quadro e
tentando entender o porquê daquele raio de pintura ser tão famosa, os
pensantes-bípedes estavam apenas preocupados em tirar uma quantidade imensa de
fotos da imagem.
E
agora eu explico o porquê de o tio Benjamin ter sido citado logo no início
desse texto, escrito a partir de minha humilde reflexão animal, que tenta compreender
a cabeça de vocês, humanos geneticamente evoluídos e portadores de polegar
opositor. Em primeiro lugar, se vocês querem apenas a foto da Monalisa, existe
uma coisinha chamada google. Você entra lá, coloca o nome da Mona-Pop na
caixinha central e dá enter. Vão aparecer inúmeras fotos e você pode ficar
olhando à vontade. Simples, não?
Se
você quer guardar uma recordação dessa visita tão especial, tente se dar ao
menos o trabalho de encontrar uma obra que não esteja tão facilmente
disponibilizada na grande teia da também chamada Aldeia Global, como bem
pontuou o delicinha MacLuhan, que não coincidentemente deve ter sido grande coleguinha do tio Ben.
Não tem muito cabimento você buscar a experiência de visitar um museu como o
Louvre, para chegar lá e só ficar tirando fotos de todas as obras, que já estão
disponibilizadas na internet. Tento entender qual é a lógica que se passa na
cabeça de vocês, bípedes-genéticamente-evoluídos, mas juro que tá difícil.
Tudo
bem, sempre tem aquele registro que você quer colocar no feice, para tirar onda
com uzâmigos, uzinimigos e gente que tu nem conhece, de que esteve no Louvre.
Mas cacete, se a intenção é essa, pelo menos se coloque à frente do raio da
obra e saia você também na foto. Mas não precisa fazer o mesmo em TODAS que
você vê. Porque ir para o Louvre fazer “book” na linha “vim aqui, sentei-lhe o
dedo na câmera, e já posso ir embora”, sem sequer contemplar o que está à sua
frente, é para mim, no mínimo, incoerente. Liga o computador que é mais
prático.
Posso
estar errada, minha crítica pode não ter fundamento algum, mas fala aí, Tio
Ben, esse atual comportamento do público que se diz admirador de arte rende ou
não rende pano pra manga? Pois é, coisas dessa pós-modernidade regida pela
sociedade do espetáculo (Gui Debord, aí lóvi iou)... A Mona tá tão Pop, que a
cadela aqui só pode contemplar a imagem dela, de fato, pela internet. Talvez
pelas mesmas imagens que foram reproduzidas no dia em que estive lá, mas não
consegui apreciar nada. E a tal da “aura” vai para a puta que o pariu.
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