Todo dia era regado um não sei o quê no jardim. Crescia disforme, ninguém se importava. Destoava da paisagem, como se não fosse dali. Dos olhares, ria sozinha. Precisava apenas de água para crescer.
Mas o líquido já não era mais suficiente para manter a vida. A terra prendia tanto, que às vezes ensaiava chorar. Só que o choro era ato muito humano. Não chorava.
Sonhava apenas em sair correndo por aí. E quando correr passou a ser pouco, sonhou em voar. Mas o sonho adoece quando a realidade fica estagnada.
Apenas suas estranhas raízes, desengonçadas, se alongavam, aumentavam, na proporção de uma tristeza sem cor. Entranhavam em meio a terra, se acomodavam nos espaços que inventavam.
Se saísse dali, morreria. Continuar ali já era a morte, uma lenta tortura regada todos os dias.
Trocou uma não-vida por uma vida de breve fim. Desprendeu-se do solo. Via suas disformes folhas secarem. Nem podia chorar. Sentia fome, sentia sede. Mas sempre que ventava, voava por aí. Vivia, sempre, na esperança de um vento qualquer.
Durou poucos dias. Mas nesses dias foi feliz.
intenso e triste
ResponderExcluiradorei a narrativa.
um beijo!
eu e esse meus momentos pseudo-bregas.
ResponderExcluiradoiro!