Não quero mais ser a princesinha do conto de fadas. Não quero mais ser a personagem com personalidade definida, espaço determinado. E se, de repente, me der vontade de gritar para o mundo? Mocinhas só gritam para pedir socorro aos seus príncipes.
Essa história não tem lógica. Eu me perco entre as linhas do que escrevo e do que é escrito sobre mim. Seria mais fácil se eu pudesse me enfiar debaixo das palavras. Talvez seja isso mesmo que me falte. Sou muito sozinha, mas nunca soube o que é viver na solidão. Posso tentar me esconder desse enredo. Mesmo sabendo que não posso fugir de mim mesma.
Quem sabe me tornar coadjuvante nos contos dos outros. Eu não começaria no “era uma vez”. Começaria lá no meio da página, mencionada em um parágrafo qualquer como quem não quer nada. O problema é que nem eu me conheço a ponto de poder dizer quem sou em algumas poucas linhas. Só a leve noção da imensidão (ou do nada) do que posso ser me assusta.
Mas pelo menos assim eu não seria protagonista, afinal, não faz bem ser personagem principal na vida de outra pessoa.
Restos de nada
Não quero minha história contada nesse livro, com um início, meio e fim. Ficaria desesperada ao perceber que as páginas estão acabando. Que graça tem viver se a gente souber exatamente onde fica o “ponto final”? Eu não quero saber do “ponto final”, mesmo se for precedido do “felizes para sempre”.
Eu quero a eterna dúvida de quando, de fato, uma história termina. Eu quero a tristeza constante do fim de histórias inacabadas. Eu quero milhões de histórias, todas sem finais. E isso meu conto de fadas não pode me dar.
Vou jogar meu livro na fogueira, antes dele ser terminado. Ninguém vai ler sobre mim. Porque eu quero, eu preciso ser muito mais do que me dizem essas linhas.
E que vá para o inferno meu reino, meu castelo, meu príncipe encantado. Eu só queria poder viver.
Eu quero a eterna dúvida de quando, de fato, uma história termina. Eu quero a tristeza constante do fim de histórias inacabadas. Eu quero milhões de histórias, todas sem finais. E isso meu conto de fadas não pode me dar.
Vou jogar meu livro na fogueira, antes dele ser terminado. Ninguém vai ler sobre mim. Porque eu quero, eu preciso ser muito mais do que me dizem essas linhas.
E que vá para o inferno meu reino, meu castelo, meu príncipe encantado. Eu só queria poder viver.