Pessoa recatada, Gabriela raramente chama atenção na rua. Ela sabe que tem uma reputação a zelar: seu trabalho não permite grandes exposições, seja por conta dos chefes, seja pela imagem da empresa séria a qual dedica os seus dias. No entanto, o furor que aparece em seus trabalhos nada mais é que um desvio das atividades que ela mais gosta de fazer, mas não tem tempo - ou lugar. Dessa forma que Gabriela apareceu numa região longínqua, quase terra de ninguém. Ou melhor: terra de pessoas livres. Liberdade. Isso que ela necessitava.
Árvores, cachoeiras, trilhas, cheiro de terra molhada, sol, chuva... tudo conspirava a favor dela. O mundo estava aos seus pés e ela sabia disso. Monta barraca, muda a roupa e parte rumo ao paraíso. Liberdade do corpo e da mente. Conversas froxas, risos largos, abraços sinceros, beijos... isso não, ainda está presa aos seus pensamentos cidadescos. Mal sabe ela que a sua hora está por vir. E cada vez mais perto.
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Agora In Sana, insana. Dança como se não houvesse amanhã, diverte-se em suas próprias viagens, corre-se contra o tempo para fazer curar as dores do passado, busca-se mais sorrisos, mais gargalhadas. Ri das tragédias do mundo, chora pela felicidade dos amigos. Doce vida, doces sonhos, doces na alma.
Um rapaz de capuz se aproxima. Estranha a tal liberdade. Vê uma doida, mais louca que o normal na região. Bate os ombros, não se importa, afinal, quem era ela? Copos de cerveja e backs passam de mão em mão. Passam pelas mãos já dormentes de Gabriela que recusa cada um. Quer ver a Lua ir embora. Deseja que a noite termine e o Sol volte a brilhar e esquentar seu corpo. Não consegue.
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Dia de cachoeiras, mais um dia de liberdade. Água gelada para lavar a alma de uma noite perdida. Ou melhor, aproveitada como se fosse a última. Mais uma viagem, só mais um dia. Entre amigos recém-feitos, diverte-se ao som de músicas que não distingue. Leva os amigos para a mesma viagem. Busca mais risos, um ombro amigo, uma conversa ao pé do ouvido e coincidências. Muitas.
Todos vão embora de repente. Vê-se sozinha, mas feliz. Extremamente feliz. Sonha com um mundo que não existe na realidade. A Lua volta a iluminar seus sonhos. Jamil, sem capuz, faz companhia. Não se sabe se em sonho ou real. Mas a conversa rola solta: falam sobre o céu, sobre trabalho, cantam juntos... luzes brilhantes, pessoas com cabeça de árvore, piadas sobre câmbrias e sexo...
Ele vai novamente. Ela fica. Ele volta. Mais conversas.
Ele, tímido. Percebe que a doida do dia anterior é outra pessoa.
Ela, tímida. Não vê a possibilidade de nada além de um bom bate papo.
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Beijos. Beijos. Mãos. Mãos. Pescoços. Pescoços. Orelhas. Orelhas. Meta: ver o sol nascer novamente. Nenhum interesse a mais. Ao menos que se tenha falado claramente. Só os gestos demonstravam o objetivo real.
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A cachoeira corre em frente, o som da água batendo nas pedras cria um ambiente favorável. Borboletas passam, passarinhos cantam. Jamil e Gabriela se entreolham. A natureza conspira. O desejo um pelo outro aumenta a cada segundo, a cada toque, e ali mesmo cedem aos apelos do corpo. Sob o nascer do Sol, aos olhos do mundo e do acordar das pessoas acampadas. InSana. InSano.
Roupas. Muitas roupas. Pessoas. Algumas pessoas. Grama. Uma infinidade.
As nuvens passam. A manhã chega. E como tudo que é bom, acaba mais rápido do que se deseja. O sonho acaba. Em poucos instantes. Hora de voltar a realidade. Pela hora, para casa. Para a cidade: aquela que não permite atrevimentos e liberdade. As luzes apagam, o show termina.
Ninguém esquecerá dessa viagem, real ou não, foi o dia em que Gabriela liberou o seu instinto e toda a sua vontade de viver intensamente cada segundo. Desta vez, o universo conspirou a favor.
Adoireeeei o episódio do dia! ehehehehehe
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