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21 de fev. de 2011

Cultura do dinheiro


Em uma de minhas crises existenciais geradas pelo tédio comum que paira sobre a sociedade industrializada, conectada e consumista do século XXI, optei por tomar uma medida que me distanciasse de um dos primeiros estágios de decadência humana: em vez de me debulhar em rios e rios de lágrimas, lamentando uma vida insípida, injusta e cruel, resolvi estabelecer metas que devem ser cumpridas nesse ano de 2011. O choque veio quando, depois de decidir o que posso fazer, digitar no word e imprimir com letras grandes e coloridas, percebi que praticamente tudo o que eu queria envolvia ele: O DINHEIRO.

Não pensem que vou iniciar aqui um desses discursozinhos socialistas-moralistas que repudiam impulsos consumistas, comuns a boa parcela de indivíduos que conhecemos (aposto que você faz parte desse não tão seleto e admirável grupo, confesse). Não, não. A questão que levanto aqui é outra. Afinal, por onde andam nossos valores? Vocês já pararam para pensar que tudo, mas tudo mesmo, se resume a esse pedacinho de papel, o dinheiro? Mas é claro que já. Não há senso comum que discorde. Mas me assustou a percepção de que o que acredito ser o melhor caminho para meu equilíbrio mental e espiritual, esteja em grande parte relacionado ao ganho material.

Quantas pessoas estacionam suas vidas em certo ponto, porque simplesmente não abandonam o pensamento “quando eu tiver dinheiro, eu vou fazer...”. E, no fim das contas, convenhamos, acabam fazendo porcaria nenhuma. Nossos desejos foram programados de tal forma para a necessidade do ter, do exibir, do parecer, que o ser – e Guy Debord vai concordar comigo (pelo menos essa é minha leitura), foi para o espaço tentar a sorte em outra galáxia.

Então, o que farei? Largo tudo e vou vender coco na praia? Largo tudo e vou para o meio do mato? Viro apresentadora do telejornal da Globo? Crio um movimento totalmente alternativo, convoco meia dúzia de malucos e saio rasgando dinheiro por aí? Por favor, alguém me diga. Não sei se ando muito desacreditada na humanidade ou em mim mesma. E se me dão licença, enquanto respostas não chegam, farei agora o que deveria ter sido feito antes mesmo de começar a escrever esse texto. Empregarei meu comum pragmatismo para resolver questões pessoais.

É isso mesmo. Vou ao shopping satisfazer a necessidade patológica que possuo do uso de cartão de crédito. Essa é a melhor maneira que encontro para suportar tantos questionamentos que alfinetam minha cabeça. Se nem isso me acalmar, apelo para uma dessas pílulas mágicas, que concedem verdadeiros milagres às mentes de natureza contestadora. Com qualquer trocado e um atestado médico falso, a gente compra a felicidade e a paz de espírito na farmácia mais próxima, garantindo profundas e serenas noites de sono.

Pensando melhor, acho que vou jogar a porcaria daquela lista fora. Muito trabalho.

2 comentários:

  1. Como dizia aquela musiquinha do meu tempo: Money is good, mas nóis não have
    Duas coisas que a grana nunca vai acrescentar numa pessoa são o talento e o caráter(o bom, naturalmente)
    De resto, tb. cedo, por vezes, ao consumo de bens etílicos e de vestuário para disfarçar minha angústia existencial.
    Junte o Guy Debord e o Zigmund Baummann e vamos assumir nossa porção normótica.
    Sem culpas.

    Beijão.

    Ricardo Mainieri

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  2. Muito bom o texto... Para onde foi o nosso ser??? Gostaria de encontrá-lo e dar-lhe um grande abraço... Que saudade dele!!!!

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Áhh, que fofo você comentar!!!