Dia desses na rua, ouvi duas mulheres conversando em tom de fofoca: “Ela atravessou sem olhar, o carro derrubou e o ônibus passou em cima da cabeça”.
Associei o discurso, falavam de uma mulher que morreu recentemente na Rua do Riachuelo.
No fatídico dia, fiquei pensando: “Quem será? Parece uma criança ou uma mulher pequena”. Cruzei a cena, meio sombria, silenciosa, pensei mais uma vez: “Quem será? Que Deus a guarde”
Ela estava estirada no chão, coberta por um lençol amarelado e sujo, a poucos metros da faixa de pedestres.
Lembro que o morador de rua, que tentava conduzir os de carros buzinando ao léu, foi advertido pelo policial mal encarado com sua metralhadora em mãos, desnecessariamente.
Percebi que não tinha nenhum parente ou amigo junto ao corpo. Estranho ver um defunto, sozinho, como um pacote flácido, sem ninguém para se desesperar ou velar.
Eram umas 11 horas da noite.
Ela não deve ter agonizado, não morreu na contramão, mas atrapalhou o tráfego.
pobrezinha.
ResponderExcluirA tristeza da nossa cotidiana miséria metropolitana.
ResponderExcluirA ironia da música de Chico Buarque, neste momento, nos leva a reflexão.
Somos alguém, uma personalidade única, a ocupar um lugar no espaço?
Ou apenas mais um "estorvo" a atrapalhar o tráfego já meio anormal do dia-a-dia?
Realidade dura e que surge a nossa frente, sem convite.
Abraço.
Ricardo Mainieri
É verdade, Ricardo. A realidade é dura e fria.
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