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31 de mar. de 2011

BBBeando



Já sei, já sei. Vai rolar aquele papinho “Mas como??? Ela vai falar daquela merda de BBB?”. É, é isso mesmo, vou falar sim. E não pense você, culto leitor, que eu vou falar mal da menina dos olhos de Irineu Marinho. Eu vou é falar mal desse público hipócrita, que em primeiro lugar não assume o que assiste, e em segundo lugar, usa de um moralismo escroto para votar em quem fica e quem sai da casa.

Vamos lá. Todo mundo mete o malho no BBB. Meu Facebook, nos últimos dias, ficou cheio de reclamações de pessoas muy intelectuais que odeiam o programa.Curiosamente, a exibição Global mais rejeitada pelo público brasileiro apresenta um dos maiores picos de audiência em rede nacional. Mas se todo mundo enche a porcaria da boca para dizer que “aquilo ali não presta”, onde estão essa pessoas, oh pai, que contribuem para o ibope da Globo parar nas alturas?

Eu já assisti muito BBB, sim. Aí, vem você me dizer que é um desperdício de emprego de tempo. Foda-se. Não dá para ser 100% cult o tempo todo. Mas, se você pensar bem, nem tudo está perdido e eu me permito uma singela reflexão. O fenômeno Big Brother nada mais é do que uma prova da necessidade patológica que o ser humano tem de aparecer. Ou vai dizer que você nunca se pegou pensando “imagina eu naquela casa?”.

Mas você – seja você o José da Quitanda ou o Mané da Academia - não sabe fazer porra nenhuma, não sabe atuar, não sabe cantar, para falar em público é uma desgraça. Ora bolas, como é que o moçoilo pimpão vai mostrar para esse mundo globalizado, onde o indivíduo se perde em meio as milhões de informações que o bombardeiam diariamente, que ele existe? Que existem pessoas como ele? Ele vai fazer uma gravação tosca e mandar o vídeo para o Projac, na esperança de que a toda poderosa entidade intitulada Pedro Bial assista.

Mamãe, estou na TV

O problema é que até mesmo para entrar no BBB o engraçado tem que fazer a linha sou-garboso-gostoso-sensual. O público não se vê representado, mas sim, a representação do que ele gostaria de ser - apesar de não estar entre minhas prioridades um peito siliconado e uma bunda mais dura que mármore. Ainda assim, devo admitir que a Globo melhorou um pouco - mas veja bem, muito pouco - a pluralidade dos confinados.

Temos aí nossa cota de negros. Apesar de representarem uma boa parcela sociedade, o máximo que a casa comporta é o número dois, e olhe lá. Temos a cota homossexual, que tem sido cada vez mais extensa. Na última edição, até uma gordinha entrou. O que foi muito bom, pois eu estava começando a achar que algo estava errado comigo e com 99% das pessoas que conheço. Esses seres, tão peculiares como eu, não parecem ter acabado de sair de uma caixa de plástico.

Mas, apesar de a “mulher gostosa” ser presença predominante, nunca uma mulher gostosa ganhou nada, por mais que seu destaque no jogo fosse além das grandes nádegas. Apenas duas moçoilas conquistaram o grande prêmio até hoje, por um único motivo, diga-se de passagem: eram pobrinhas, coitadas.

Eu achei um absurdo a Priscila - para quem não sabe, uma morena toda gostosona - ter ficado em segundo lugar (não lembro em qual edição), perdendo o prêmio para o perfil tradicional de vencedor de programa: jovem rapaz, simpático, branco, que faz a linha cool com todo mundo – ou pelo menos com a maioria das pessoas. O pensamento reinante foi “a rabuda vai ganhar dinheiro quando pousar para Playboy”. Papai... depois a sociedade reclama da vulgarização da mulher.

Dia de Maria

Mas eis que ontem fiquei sabendo que Maria ganhou essa edição. Com esse feito, a sister bem que merecerua entrar para a história dos BBBs. A mulher é boazuda, pegou DOIS bombadinhos na casa, tem vídeos eróticos na internet e ainda assim levou o prêmio. FODA. Não acompanhei o programa, mas saber que a vencedora foi alguém fora do estereótipo moralista e sem graça reinante entre os finalistas, foi ao menos divertido.

Sempre achei a eliminação do BBB a coisa mais escrota. Se você falar mal de alguém, o público te dá pé na bunda; chorar demais, pé na bunda; ser encrenqueiro, pé na bunda; não plantar a semente do bem no árido coraçãozinho dos outros participantes, pé na bunda. Aí, o programa fica uma merda, cheio de gente chata e pouco interessante, e neguinho não sabe o porquê. Como se todas as pessoas que gastam seu dinheirinho votando fossem exemplos de ética e bons costumes.

Agora, pensando bem, será que era por isso que tinha tanta gente reclamando do BBB no Facebook? Por favor, queridos amiguinhos, não me digam que vocês torciam pelo médico-bonzinho-boa-pinta-baladeiro-total? Porra, vocês não ficam de saco cheio da mesma coisa sempre??? Sou mais a Maria, que venceu o preconceito da gostosura.

Isso mesmo, porque mulher só se fode. Se não for gostosa, é descriminada. Se for gostosa, é descriminada do mesmo jeito, coisa que não vejo acontecer com os machos da espécie. Tá bom, vocês vão me perguntar se eu não acho um mau exemplo para o público feminino ser ver representado na televisão dessa maneira. Sinceramente, nesse caso, eu não acho não.

Enfim, esse post está mais superficial do que de costume e sem conclusão alguma. Mas eu já escrevi para caralho, pelo menos de acordo com os padrões cibernéticos. Meu objetivo não é apresentar uma tese de doutorado em um blog. Eu só queria mesmo falar mal dessas pessoas que assistem reality show. Além do mais, sei que essas pessoas (você, por exemplo) têm preguiça de ler. Preferimos assistir Big Brother Brasil. E viva a democracia brasileira, com seus peitos, nádegas e salientes músculos reinantes.

28 de mar. de 2011

Pedras

Nem sempre ela chuta as pedras que insistem em cruzar seu caminho, mesmo as que vão bem ao encontro de seus pés. Não que tenha medo de se machucar com a topada. Simplesmente tem preguiça de fazer um movimento com as pernas.

É mais fácil dar um pulo e fingir que a pedra nunca esteve ali. Mesmo que, algumas vezes, a lembrança do que não foi jogado para bem longe incomode. Ou será que ela gosta de manter tudo assim, sempre no mesmo lugar?

O que não admite fazer é parar de andar. Mesmo que o andar seja um quase rastejar do corpo. Fica mais fácil fingir que não se importa em ter deixado, em deixar tantas pedras, pedras pequenas, pedras leves, ali, estiradas no chão.

Mesmo que ela não conceba a ideia do mais fácil... entre o pensar e o fazer há um curso muito longo a ser trilhado.

Mas porque se preocupar com pedras? Se ela quiser, as pedras podem ser apenas simples pedras, que em nada afetam seu caminho. Mesmo que machuquem seus pés, no dia de chuva em que ela resolver sair correndo por aí, descalça e nua.

Ela não se importa com os ferimentos nos pés. Ela apenas não quer ter o trabalho de chutar as pedras. Pedras são sempre pedras.

Se ela der um grito bem alto, vai se sentir mais livre do que se tivesse chutado as pedras de seu caminho? E se as pedras forem tantas, que as impeçam de correr? Ela está inerte demais para sair correndo por aí. Gritar é mais fácil. Quem sabe alguém ouça.

E se as pedras se agruparem, se encaixarem, se as pedras se transformarem em um muro? Ela não corre, ela não sente o doer dos pingos grossos da chuva que lavam o corpo, ela não sente sangrar a carne dos pés machucados, sufoca o grito. As pedras protegem? Pedras são apenas pedras?

A única coisa que ela queria hoje é ter uma noite de sono tranquilo.

A única coisa que ela queria hoje é poder dormir em paz.

E mandar todas as pedras para o quinto dos infernos, enquanto se perde em sonhos.

24 de mar. de 2011

Tamanho do documento


Pois bem, leitores que por este me acompanham. Esse post é de cunho informativo-sexual (informativo para mim, é claro). Tenho dúvidas. Espero que vocês possam me ajudar, já que ando tendo umas experiências sexuais um pouco diversas das de costume. Como todos aqui sabem, até hoje, apenas púberes grandes e robustos regaram minha flor com suas sapecas sementinhas. Mas como minha ximbiquinha clamava novidade, resolvi inovar.

Não sei como nem porque - acredito na hipótese macumba-feitiço-bruxaria -, bateu na perseguita a ligeira vontade de fazer a dança do acasalamento com um nobre e belo rapaz que conheci, cuja estatura é bem menor que a minha. Como todos sabem, sou bem alta, uma típica morena cor de jambo - mais conhecida como a cútis do pecado. Enfim. Preconceituosa, em um primeiro momento tentei fugir das chamas dessa paixão, mas não aguentei e me deixei queimar pelo fogo da luxúria. Traduzindo: dei mesmo, muita coisa.

Foi só a gente parar em um boteco para bater um papo e tomar um chopp, para as faíscas do desejo se chocarem. Muito esperto, ele se aproveitou do meu estado-fogoso-etílico para me seduzir. E como eu sou muito difícil, dez minutos depois já adentrávamos em refinado estabelecimento, em busca da consumação do ato físico do amor.

Resolvi não deixar que meros quinze centímetros afastassem dois espumantes corações. No nosso caso, para ser mais exata, a cobra dele de minha perereca-eufórica. Afinal, no final das contas, na horizontal (ou até mesmo na vertical, dependendo de minha disposição para inusitadas performances sexuais) tudo se encaixa. Ou não.

Encaixa
Numa de nossas copuladas, eu e minha pepequinha em chamas quase deixamos o garboso mancebo sem os ovos que acompanham a salsicha. Era só eu mudar de posição para meu joelho ser atraído como um imã ao já esfolado falo do rapaz. Uma das vezes, inclusive, ele deu um berro de dor e precisamos dar uma leve pausa em nossa fornicada.

Juro, de coração, que similar episódio nunca me havia ocorrido. Eu não sei como esta merda desse osso ia se enfiar toda hora em protuberâncias que não lhe diziam respeito. Mas eis que, muito paciente, ele me deu uma razoável explicação. Disse que eu estava acostumada a praticar o coito com pessoas de anatomia muy distinta da dele, logo, esse era apenas um problema de adaptação. Mas será??? Eu não sei não... de qualquer forma, ainda bem que não faço do meu prazer um ofício. Porque se fosse assim, cliente nenhum iria me indicar para senhores de estatura pouco elevada.

E agora, a dúvida que faz latejar minha já pouco atormentada cabecinha. Digam-me, meninas: isso acontece com vocês ou eu preciso praticar com mais destreza a refinada arte da penetração peniana-vaginal?

23 de mar. de 2011

Confissões da adolescente que eu queria ter sido

Não quero ser a popular da escola, nem fazer parte do grupo mais descolado.
Não pago para alisar o cabelo, também não compro roupas caras só porque estão na moda.
Não ligo se acham a cor do meu esmalte esquisito ou se riem de minha maquiagem.
Não vou fingir que faço sexo para parecer legal, nem falar que sou virgem para bancar a puritana.
Não vou dizer que gosto das músicas do momento, só para ter assunto e ser chamada para as festinhas Vips.
Não quero ser chamada para festinhas Vips.
Não quero ficar com o gatinho do bairro.
Não abro sorriso por educação.
Não encha o meu saco.
Vão se fuder.

22 de mar. de 2011

Mulheres desesperadas

Pois bem, audazes senhores. Cada vez mais me convenço de que minha experiência terrestre não deve ter sido projetada para o local ao qual vivo. Não sei se há sequer um buraco no planeta em que eu não me sentiria um ponto solto no universo. Vou esclarecê-los o porquê de minha reflexão pseudo-existencial. Mas por que raios tudo que é ximbica solteira, depois de certa idade, fica desesperada atrás de um pinto durante festividades, eventos e afins?

O que eu vou falar aqui pode até soar machista, mas é verdade. Quanto ao bicho- homem, vá lá que ele seja um eterno insano pelas pepecas, principalmente as desconhecidas. Afinal, quando ele se aproxima do sexo oposto em um desses bares ou casas noturnas da vida, sua intenção é esquentar a xiboca em um buraquinho quentinho e aconchegante. Vão por mim, eles não te olharam e pensaram “encontrei a mãe dos meus filhos”.

Sendo assim, fala para mim o que são essas pobres encalhadas que vão para a noite carioca achando que encontrarão o príncipe encantado??? Procuram arranjar um relacionamento em uma B-O-A-T-E??? Minha filha, existe alguém aí dentro dessa cabecinha? Sinto informar, mas você está procurando no lugar errado, querida. A não ser que tu sejas uma fêmea descolada e seu único intuito seja uma acasalada casual, esquece isso.

Nesse final de semana, por exemplo, saí com meus adoráveis amigos para um desses inferninhos xexeletos de Jacarepaguá. Quase todos estavam acompanhados. Uns felizes, outros nem tanto, mas todo mundo tinha sua transadinha certa no final da noite. Mas o que me chamou primeiro a atenção não foi isso. As chicas que estavam sozinhas ficaram muito chateadas porque havia poucas pessoas interessantes no distinto recinto. Óh, forças da natureza, eles foram para uma boate atrás de homem interessante...

E vejamos aí a ironia do destino. Eu, o único ser que não estava com a mínima intenção de conhecer ninguém, tive que aturar uma daquelas típicas cantadas de fim de noite, das quais já estou tão acostumada. Queridinhos, vamos ser lógicos. Se eu quiser conhecer a porra de um homem (e não apenas um macho para me esfregar durante o resto da noite), não vai ser em uma boate que eu vou procurar. Não vou dizer que encontrar o amor-da-vida-inteira nesse tipo de estabelecimento seja impossível. Mas se você nutre alguma esperança nisso... mas que merda, hein?

A cantada
Foi mais ou menos assim. O garboso rapaz, aparentemente alcoolizado, parou à minha frente e disse: “De fato, você é mesmo uma mulher muito bonita. Mas você é, de verdade”. Tipo, o indigente fala o mesmo para as outras, mas só para mim ele não está mentindo? Pois bem, logo depois o adorável pimpão solta a seguinte pérola: “Para você eu vou ter que ligar depois. Para você eu ligo mesmo, você vale a pena”. Ou seja, o mancebo também pede o telefone das outras, mas para elas ele não liga, porque as míseras iludidas não são dignas de demasiada atenção?

Para encerrar com chave de ouro, o macho lança: “O que você acha de a gente ficar se beijando e trocar telefone para eu te ligar depois? Você é muito linda, de verdade”. Pimba! Com essas três frases, o Don Juan da Zona Oeste jurava ter plantado a semente do amor em meu frágil coração. Tanto que (coitado) aparentou leve transtorno quando ouviu meu sonoro NÃO. Aaaaaaaaaah... mas você acha que o galanteador desistiu??? Não, não. Ele repetiu as mesmas EXATAS TRÊS FRASES umas cinco, eu disse umas CINCO vezes, até se convencer de que não é não.

Enquanto isso, meus queridos consortes faziam animada torcida ao fundo, gritando discretamente frases de uma sutileza ímpar, como “Dá só um beijo, porra!”. Foda-se. Minha inteligência não me permite mais paciência para certos tipos de coisa. Para fingir que eu caí nas obscenidades escrotas que ouço por aí, tem que haver a junção de três fatores: a) eu tenho que estar muito bêbada, b) eu tenho que estar de muito bom humor, c) eu tenho que estar muito na falta. Se todos esses itens se agregarem, aí sim, rapaziada, pode vir que vai ter Pina para todo mundo.

Até lá, para que eu me interesse, ou encontrem um assunto inteligente ou façam a linha “sou um rapaz descolado que vai puxar o maior papo besta contigo para ver se, mais tarde, algo rola”. Caso contrário, esqueçam. Confesso que às vezes me sinto uma E.T. e até entro em crise por ser tão desapegada ao apego. Ainda assim, prefiro ficar muito bem quietinha no meu canto, obrigada.

19 de mar. de 2011

A arte de deflorar o botão


Eu nunca fui penetrada pelo botão. Preconceito? De forma alguma. Estou guardando para o casamento? Jamais. A resposta é muito simples: dói. Para mim há quatro tipos de mulheres. Temos aquelas que sentem muita dor durante a fornicação pela flor traseira; aquelas que só gostam de dar a flor traseira e até abdicam do coito frontal; aquelas que nunca vão descobrir de qual grupo fazem parte, porque são frescas demais para pensar na possibilidade de uma copulada que não seja vaginal; e, por fim, aquelas que ainda não encontraram um muchacho devidamente capacitado para introduzi-las aos prazeres anais.

Espero muito estar catalogada nesta última categoria, afinal, não tenho nenhum tesão em dar o cu, mas certas miudezas não podem passar em nossas vidas em branco, sem que ao menos tentemos uma vez ou outra. Mas o mais engraçado é que todo homem, TODO MESMO, se considera especialista na arte de esconder o nabo na rosquinha. Não vou nem falar a quantidade de vezes que já ouvi: “ah, mas você nunca ficou com alguém que fizesse direito”. Nem preciso também dizer que os indigentes que se diziam “fazer direito” eram justamente os detentores de tal discurso. Ah-ha.

Conto de fadas contemporâneo
Essa história de dar o cu, inclusive, me fez lembrar um casal que admiro muito. Aliás, de todos os casais que conheço, esse é o único que merece todos os meus créditos. Protagonizaram episódios interessantes, do qual um em particular precisa ser relatado aqui. Falo de Gineco Galudão (leia-se Gineco por ginecologista e Galudão por Galudão mesmo) e La Belle Foulesse (a escrota me pediu um codinome em francês, depois que leu o post La Nain Sauvage. Mas muito franca, a palavra Foulesse foi de total invenção minha. Leia-se Foulesse por Foguenta). Pois bem, vamos ao nosso conto de fadas contemporâneo.

No meio de uma transada muito selvagem, essa espevitada jovem cismou que queria de qualquer jeito dar o cu. Na mesma hora, Gineco, que é médico, ficou sério, interrompeu a fudelância, e de maneira muito didática começou a explicar os males de liberar o centro metorfugional, mais conhecido por orifício anal. Como qualquer sujeito detentor do conhecimento das mazelas corpóreas humanas, ele sabe muito bem que, anatomicamente, o lugar que foi projetado para largar o feijão não deve ser empanturrado de salsicha.

Ou seja, enquanto tem por aí um monte de filho da puta que só quer saber de empurrar no seu buraquinho, existe meia-dúzia de jovens príncipes perdidos, preocupados com a desvirginada (ou mera botada casual) da olhota de suas dulcíssimas donzelas. E eu sei que você, púbere leitor, deve estar se deleitando com esse texto e pensando “mas que moleque mais viado”. Pois saiba o seguinte, você que por esta me lê: és um babaca.

Enfim, essa história de príncipes encantados e princesas virgens de cu não começou com o clássico “Era uma vez...” (sou dessas que buscam abolir o clichê), mas promete um puta de um final feliz (ok, me rendo ao clichê-pseudo-brega). Os pombinhos estão com data de casamento marcada, com direito à lua-de-mel pela Europa. Entre a correria dos preparativos finais para o grande dia, La Belle Foulesse já me confidenciou: “Amiga, não quero nem saber, durante a viagem eu vou dar o cu”. Isso aí, amiga, vai com tudo!

E viverão felizes para sempre.

16 de mar. de 2011

O que se perdeu


Acho que alguma coisa se perdeu em mim.

Lembro quando eu era menina.

Quando eu era menina, escrevia poemas românticos, colecionava com carinho e cuidado papéis de carta. Sonhava com o príncipe encantado que me levaria ao altar. Era tranquila e ponderada. Tinha um jeito doce e inocente. Sempre sonhadora. Pensava na carreira profissional perfeita. Frequentava igreja todas as semanas e pregava com fervor a moral e os bons costumes. Queria um futuro estável, uma existência sem grandes surpresas.

Poucos anos se passaram, me tornei mulher.

Agora que sou mulher, escrevo textos agressivos, muitos com tom vulgar. Minha desorganização e meu desleixo não permitem comprometimento com determinados passatempos. Não concebo a ideia de homem perfeito – se existisse, seria um baita de um chato. Sequer concebo a ideia de um relacionamento dito tradicional. Isso porque sou inconstante e emocionalmente desequilibrada. Além disso, sou exagerada e falo um monte de palavrão. Despenquei da nuvem dos sonhos para a terra do “preciso desesperadamente fazer qualquer coisa que me arranque dessa realidade”. Tenho uma carreira medíocre e, apesar de reconhecer talento (sim, sem falsa modéstia), não faço absolutamente nada para sair dessa inércia. Sou ateia e mando o moralismo para a puta que o pariu. Não tem nada que eu deseje mais nesse mundo do que uma vida nômade, sair por aí e foda-se.

Ainda assim, nunca sequer viajei sozinha. Nunca procurei por um trabalho que realmente gostasse. E, de vez em quando, sinto falta de alguém que durma abraçado comigo e me acorde com um bom dia, um sorriso e um beijo.
Algo do meu passado que ficou impregnado?

Acho que alguma coisa se perdeu em mim.

14 de mar. de 2011


As cigarras sabem que seu destino não tem glamur. Sua reprodução é o fim da linha, fim de um canto com mais de 1.200 decibéis.
Depois de expurgar os ovos, que eclodirão no mês de setembro, as cigarras têm um encontro natural com a foice da morte.
Já as ninfas órfãs desabrocham na primavera e enterram-se em buracos. Precisam adolescer logo, chupando a seiva das raízes submersas de árvores líricas. Estão a sós, as vampirescas pequenas ninfas.
Além da fama das fábulas que as associa a lassidão, ainda contam com a inimizade dos lavradores, principalmente os de café. O canto não só as protege dos predadores, mas as tornam insuportáveis nas tardes de verão.  
As hospedeiras sugam somente o sumo da seiva, deixando nada. Não são como os beija-flores politicamente corretos.

As cigarras possuem micro escavadeiras nas mãos dianteiras. E quando é inverno, fazem sexo...

No que a cigarra pensava?
pensava em fumar cigarro ou bebericar café?
a agonia de ser almoço de aranha era tamanha?
Onde estava a cabeça da cigarra?
antes da testa colada na teia?
Quis eleger seu jeito livre de morrer?
Mesmo com três olhos a cigarra não pode ver?
A cigarra quis nascer,
Ou desobedecer?

Mamãe, quero ser puta


Não estou aqui para fazer crítica cinematográfica. Até porque não entendo porcaria nenhuma de cinema. Isso não me impede de dizer que achei o filme Bruna Surfistinha interessante. Repito aqui o que já publiquei em meu facebook. A mulher virou puta porque quis e não precisou de justificativa alguma para isso. Ela podia lá ter seus problemas familiares e sofrer por não ser a popular da escola. Problema dela. Apenas uma menina entre 500 vai ser a fodona no colégio e crises domésticas todo mundo tem.

Vocês se lembram daquelas histórias em que pobres coitadas são obrigadas a viver na prostituição, porque simplesmente não há outro recurso, e sofrem como donzelas dignas de protagonizarem uma açucarada novela mexicana com o desafortunado destino? Pois é. Em Bruna Surfistinha eu vi uma menina que estava de saco cheio da porra da vida e pensou: “Foda-se. Vou dar por dinheiro”. Achei sensacional.

Sobre o filme eu já ouvi de tudo. Mas o comentário que mais me intrigou foi o de que a história seria uma apologia. Só não entendi exatamente apologia a quê. É claro que a história fugiu um pouco da realidade e em alguns momentos apelou para o romantismo típico de um produto da indústria cultural. Por exemplo, e as cenas em que ela não recebe pelo trabalho prestado, ou então as que ela sofre agressão de um cliente? Sabe-se muito bem que isso acontece, basta conversar com qualquer prostituta para ouvir esse tipo de relato.

O que vemos é uma menina toda pimpona, feliz e contente por ser objeto de desejo de milhões e milhões. Mas a questão é: será que o que incomoda é o que poderia ser considerado uma apologia a prostituição ou a banalização do sexo na visão de uma mulher? Acho que a segunda opção é a que prevalece. Mas, vamos lá. Afinal de contas, o sexo não é de fato uma coisa totalmente banal? Não vou levantar questões que envolvam premissas éticas e morais, mas a verdade é que não consigo entender porque raios a penetração ainda tem uma conotação tão forte na sociedade. Tá bom, eu até sei. Mas porra, vamos convir, é só sexo. Pronto.

Apesar de essa ser uma atividade humana tão comum quanto qualquer outra, ela gera uma série de conflitos e preconceitos. Principalmente quando diz respeito às despudoradas fêmeas. Por que, para tantas pessoas, é difícil aceitar uma mulher que goste de sexo e não se importe em transar com quem bem queira? E não me venham com aquele velho senso comum dizer “mas hoje virou tudo uma bagunça, ninguém liga para mais nada”. Não é assim, não.

Em geral, para justificar essa bagunça, basta marginalizar a mulher. É tudo culpa nossa, estamos muito fáceis. Ouço com frequência discursos puritanos até mesmo de pessoas que admiro muito, do tipo: “ai, esse mundo tá perdido”. Tá perdido por quê? Porque existem mulheres que, assim como muitos homens, fazem o que querem sem se importar com o que vão pensar delas?

A puta que existe em mim
E sabe o que é pior? Saber que esse meu discurso vai gerar interpretações que não têm nada a ver com o que eu quero dizer. Coisas do tipo “ah, tá bom, até parece que você é a maior vagabunda”, ou então “valeu, começa a cobrar para fuder agora”. Já ouvi as duas, o que, sinceramente, me deu muita raiva. Não estou aqui falando de mim. Estou falando da hipocrisia generalizada que reina nessa sociedade que se diz muito liberal, mas que é moralista.

Mas, se alguém quer mesmo saber de mim, vou falar uma coisa. Durante o papo de calcinhas, já aconteceu de eu dizer que não queria transar com um cara que tinha acabado de conhecer e ouvir a seguinte resposta: “ah, amiga, é verdade, eu também me seguro pra caramba”. Minha resposta nesses casos não varia muito. “Eu não seguro porra nenhuma. Não vou deixar de fazer o que tenho vontade de fazer, por medo do que o cara vai pensar”. O problema é que eu convivo com tanto homem idiota, que despertar em mim interesse sexual é algo difícil. Em geral, apenas “pego” por esporte ou porque estou bêbada.

Então, caros senhores, vocês acham que se me bater interesse, eu vou fazer média? Jamais. Eu praticamente vou abrir as pernas e oferecer minha delicada flor. Confesso que não fiz sexo com muita gente diferente, mas na maioria das vezes, eu fiz logo na primeira vez em que fiquei. E se algum deles me julgou mal por isso, sinto muito. Não são homens para mim. Se eu não sou uma dita “piranha”, não sou simplesmente por pura falta de oportunidade. Porque, sinceramente, não vejo problema algum em distribuir o que é meu.

E foi exatamente por isso que me declarei fã da tal da Surfistinha, depois de conhecer um pouco da sua história. Ela diz que fez muitas escolhas erradas na vida, mas diz que nunca considerou sua profissão um erro. Concordo e assino embaixo. Puta tem por aí aos montes. Hoje em dia, muitas delas se declaram meninas moças, mas se vendem na noitada por uma garrafa barata de um uísque qualquer.

MALralismo
Mas, se o sexo é tão banal, seja por troca de favores ou não, porque simplesmente ouvimos de nossos amiguinhos histórias escabrosas, mas não ouvimos das amiguinhas nada que extrapole em muito o tradicional papai e mamãe? Por que essas mulheres não se libertam e admitem que são assim, que gostam mesmo e ponto final? Porque VOCÊ, isso mesmo, VOCÊ, É PRECONCEITUOSA(O) PARA CARALHO, e vai julgar e jogar a mulher na fogueira da inquisição. E lasca pedra na Geni.

Você não quer se amiga de uma fudecona, afinal, pode ficar feio para o seu lado. Você não quer namorar uma puta que geral já comeu, imagina a vergonha. Mas o seu namorado por ser um ex-filho da puta (ex porque você quer), os seus amigos podem ridicularizar as mulheres com quem ficam e você pode dividir com seus colegas essas vagabundas que você conhece por aí, não é isso mesmo? Sinceramente, estou cansada desse falso moralismo. E sabe o que é pior? Os falsos moralistas sequer se dão conta do que são.

Então, vamos todos continuar fechando os olhos e fingindo que nada está acontecendo, enquanto algumas poucas são apontadas por você, ou até mesmo por mim (por que não?) como uma subversiva qualquer. Enquanto a gente finge que mulher não gosta de sexo tanto quanto o homem, enquanto a gente finge que não existe discriminação sexual, enquanto a gente finge que as mulheres estão se libertando cada vez mais do preconceito social (apesar de as próprias mulheres massacrarem, julgarem e condenarem umas as outras), eu bato palmas – muitas palmas mesmo -, para aquelas que lascam um foda-se para porra toda e não só aceitam, como também não discriminam a prostituta que existe dentro de todas nós.

Um brinde às Brunas perdidas por aí.

13 de mar. de 2011

La Nain Sauvage

Em meus áureos 25 carnavais, começo a perceber que me foi dada a largada de transição de bela flor do campo para tiririca do brejo. Tive esse insight ainda ontem, quando me dei conta de que minha disposição para os júbilos carnais já não anda lá essas coisas. Pois contarei então o que ocorreu.

Fui curtir os resquícios da folia carioca no mais boêmio e romântico bairro da cidade maravilhosa, a Lapa. Como há muito ando sem critérios para selecionar devidas companhias, fui pular as marchinhas carnavalescas com alguns adoráveis senhores já mencionados aqui, entre eles Jose Cuervo e El Copulador.

Integravam também essa acalorada equipe El Locon, como motorista da noite, e uma encantadora jovenzinha, cujo singular estatura não atingia sequer meus peitos. Alcunharei-a-a aqui, com muito carinho e afeto, de La Nain Sauvage (Anã Selvagem em francês, para os rústicos não entendedores dessa sofisticada língua de descendência latina).

Ninguém conhecia essa delicada púbere, e carne nova no pedaço sabe bem como é, todo mundo quer provar. Ela apenas compartilhava o mesmo veículo automotor que o nosso graças a evolução tecnológica, que permitiu a criação da mais adorável poesia dos tempos modernos: o facebook.

Pois foi esta merda mesmo. El Locon achou a chica nessa distinta rede social. Por considerá-la garbosa, puxou assunto e, algumas meras horas depois, ela estava passeando com a gente pelas ruas do Rio de Janeiro. Para sorte dela, não somos sequestradores, estrupadores ou qualquer coisa do tipo. Somos apenas um bem-aventurado grupo de amigos, alguns dos quais, para também sorte dela (como veremos a seguir), não conseguem manter a porra do pinto dentro das calças.

Ménage à trois
Pois bem, vamos direto ao ponto. Chegando lá, La Nain Sauvage foi seduzida pelo El Copulador. Porém, Jose Cuervo, apesar de estar dando uns amassos em uma das amigas dessa nanica donzela de ares virginais, não deixou em sua imunda cabeça de cobiçar a pequena moça. Eis que quando adentramos no carro para voltar para casa, o bacanal no banco traseiro começou a rolar solto. Enquanto eles se aqueciam para o ménage que mais tarde ocorreria na casa de Jose, El Locon e eu nos escangalhávamos de rir na frente, presenciando aquela decadente manifestação do ato físico do amor.

O foda foi no dia seguinte. Acordei arrebentada de cansada, após ter passado a noite bebendo e rodando pelas ruelas da Lapa. Fiquei online e, de cara, veio La Nain me adicionar no facebook. Mal me viu on e me chamou para ir com ela para um outro bloco, que começaria no início da tarde. Ela já estava pronta, saindo de casa. Mas veja bem... Eu não dei para ninguém naquela merda, fui direto para minha residência e acordei no outro dia totalmente estragada. A porra daquela anã filha da puta deu para dois machos gigantes a noite toda, e já estava saindo de casa para ir sasaricar o rabitio em outro bloco. Não sei se viro fã dela ou se amargo minha infelicidade.

Minha humilhação só não foi maior do que a do El Locon. Ele que convidou e levou a menininha para o evento, porém, foi o único rapazote que não a comeu. Ah-ha, seu otário. Levando carne para churrasco alheio, sem sequer experimentar a sensação de uma singela degustação de seu tempero. Aliás, da carne ele não sentiu nem o cheiro.

Ah, e só uma informação, El Copulador: ménage à trois não é um tipo de comida. A não ser que você considere refeição o ato de afogar dois nabos em uma pepequinha.

9 de mar. de 2011

Mijada neles


Aaaaaaaah... como foi bom curtir a folia carnavalesca carioca. Mal terminamos a quarta de cinzas e já sinto fluir em mim todo esse espírito saudosista, resultado de minha natureza romântica e nostálgica. E querem saber, queridos leitores, o que de fato chamou minha virginal atenção durante o evento mais esperado do ano, do qual homéricas proporções são amplamente divulgadas até mesmo no exterior? A determinação de alguns adoráveis senhores, que com seus engomados ternos e bundinhas que expelem leitinho de pêra, proibiram a tradicional mijada de rua, sob pena de algema nos pulsos.

Aplausos para eles. Que bom cristão, oh pai, quer caminhar em logradouros fétidos e ensebados de excrementos alheio? Pois eu direi bem o que ocorreria se, após o alívio de suas necessidades fisiológicas em plena avenida, um representante da lei se dirigisse ao suíno cidadão, alegando poder para transferi-lo do doce embalo de confetes, espumas e paetês, para o tão temido cárcere. Eu, que provavelmente estaria levemente alcoolizada, diria ao repreendido cidadão: “Pois quero mais é que esse governo filho da puta vá se foder. Se eu fosse você, ameaçava processar esse Estado de merda, que quer te prender por se aliviar na rua, mas não oferece estrutura alguma para que você faça suas necessidades no lugar devido”.

É essa porra mesmo. Eu ia juntar geralzão que estivesse entrando em cana e organizaria uma puta de uma rebelião. Sairia quebrando tudo, na linha bolchevique total. Tenho certeza de que todos os presentes, mixões ou não, em mínimas condições de entendimento (porque com os cornos cheios de cachaça, ninguém sabe o que pode ser interpretado por aí), iriam aderir ao movimento.

Essa medida do governo nada mais é do que a prova de que brasileiro – nesse caso carioca – é tudo um bando de otário passivo, que aceita qualquer merda imposta, sem sequer questionar. Afinal, vamos ser lógicos. Quando eu decido ir ao banheiro, é porque eu já estou com vontade. Se eu estiver bebendo algum líquido que agregue em sua composição substâncias de teor etílico – coisa que boa, mas muito boa parte mesmo dos animados foliões fazem -, minha vontade vai ser acentuada. Nessa situação, por favor, me respondam: com que condições uma pessoa portadora de bexiga mediana vai suportar encarar uma fila quilométrica, para ir até um daqueles banheiros químicos fedidos, nojentos, cheios até a borda? Isso para não falar que, em um dos blocos que fui em Botafogo, SEQUER HAVIA BANHEIRO QUÍMICO.

Imprensa de merda
Para ficar ainda mais divertido, vejo no noticiário da tarde os jornalistas da Globo exibirem belíssimas matérias, em que recriminam com furor os engraçados que lançavam seu pipizinho fora do local imposto, fazendo uma campanha sensacional favorável à política “prende a porra do xixi e espera sua vez de ir ao banheiro, ser neandertal”. Pois eu só digo uma coisa para esses militantes da civilidade. Vão curtir o carnaval de rua, bando de jornalista burguezinho filho da puta, e depois apresentem para o bosta do editor o ponto de vista DA MAIORIA, em vez de se preocupar apenas com o que você e o prefeito concordam.

Nessas horas eu acho que o jornalismo deveria abandonar a observação participante tradicional e interagir de fato com a comunidade, com a cultura, com o raio que o parta a ser estudado. Falar sobre os outros é mole, né? Quero ver se colocar no lugar desse outro e escrever depois. E um viva para George Orwell, pioneiro do jornalismo literário, com seu quiçá clássico Na Pior em Paris e Londres.

Para finalizar, fica apenas um recado: Eduardo Paes, para de rebolar a porra desse seu rabo na Sapucaí e vai tomar no olho do cu.

Acho que por hoje é só. Já fiz as coisas que mais gosto. Com toda minha finesse erudita e esse meu dulcíssimo jeito de ser, digno da dama que sou, falei mal das pessoas que estudaram o mesmo que eu na faculdade, mas que sei lá por qual motivo, em sua maioria fazem coisas que meu id, meu ego e meu super-ego (segundo as máximas psicanalíticas de Freud) repudiam absurdamente (mas afinal, por que eu fui fazer jornalismo???); já critiquei nossa administração regional e, o melhor de todos... já xinguei um monte de gente.

Para que esse post não soe um tanto quanto negativo, me despeço desejando a todos um ótimo retorno às atividades laborais. E viva o esplêndido carnaval nos blocos do Rio de Janeiro.

5 de mar. de 2011

Respiração


Tão cansada… fecho os olhos, estiro o corpo sobre a cama de lençóis claros, jogo fora minhas roupas e junto com elas todos os sentidos. Em nada estou pensando. Experimento apenas o leve toque das cobertas roçar a pele. Me despi a ponto de sentir que sou tão minha, mais tão minha, que poderia por alguns segundos sair de mim.

Estou em um torpor... tão grande... nem... nem percebo que existe muito ar. Mesmo sem querer eu preciso, estou sentindo necessidade de respirar cada vez com mais força. Sentirei uma dor? Será comedida? Como se a matéria explodisse e espalhasse cada pedaço meu pelos cantos desse quarto esquecido. Aqui, só a fraca luz do dia se mistura ao ar empoeirado, com cheiro de nada. Esses feixes que escapam pelas brechas da janela, desse cômodo só meu.

Agora... uma invasão de toda essa vida... não tinha me dado conta antes, mas estou sufocando. O fôlego... falta. Estou sendo consumida por uma súbita e desconhecida agonia, meus movimentos estão cada vez mais acelerados, meu corpo se inquieta... um prazer que dói... não sei se imploro por menos ou por mais. Eu não vou abrir meus olhos.

Apenas uma mão ampara a nudez, contornando, apertando, cada curva da minha carne. E apenas minha mão pode sentir cada detalhe dessa calma que vem me invadindo aos poucos, de repente, sem pressa de chegar. Estou aprendendo bem devagar a controlar todo o ar... calma... estou respirando... o medo é o único que me abraça nesse leito vazio.

Relaxe... estou imaginando o mar tranquilo, refletindo um fim de tarde amarelo, a maré vai e vem… apenas o barulho das águas, o cheiro do sal. Serena… serena me sinto. Como é tola e vã minha tentativa de dominar o que deveria ser uma simples respiração.

Mas mesmo o ar comedido, sinto o oscilar cada vez mais forte de meus seios, subindo e descendo mais rápido. Por mais que eu tente me conter, alguma coisa continua pulsando desordenadamente… não me deixa dormir em paz.

E continuo nua, deitada no largo leito do quarto vazio, despida dos meus sentidos, despida de mim. Continuam fechados, os olhos. Sinto apenas o pálido toque dos lençóis e os fracos feixes da luz do dia que invadem a cômoda, invadem meu corpo nu, pelas brechas da janela...

Estou me debatendo, apertando com força os finos pedaços de pano em volta de mim. Mais uma vez, não consigo respirar.

2 de mar. de 2011

Cores


Hoje, quando encolhida entre os lençóis de minha cama abri os olhos, lembrei que o igual demais sempre me cansou. Não vivo sem o sol, mas não suportaria uma vida em que o céu resplandecesse o mesmo azul todos os dias. Depois de tanto contemplar com cansaço tedioso o tom uniforme, senti esse alívio que nem era meu ao acordar e perceber tantos tons de cinza, emoldurados todos pelo vento. Com seu sopro, transformava a paisagem em obra de arte, como uma aquarela que vai rabiscando e dando forma na tela de um quadro sem cor. Não preciso – nem quero – sempre olhar o mesmo límpido horizonte. E confesso... gosto de sentir o cheiro – e até mesmo o gosto -, das gotas de chuva de vez em quando.

Existe espetáculo maior na natureza do que uma luz que com um rasgo encontre e repouse em meu corpo, procedida da tempestade?