Fico impressionada com o quanto uma criatura pode se tornar desprovida de qualquer sanidade mental durante essas crises de relacionamento. Já vi – e já participei, confesso - de quase tudo que é maluquice, das mais medonhas às mais engraçadas.
Sei, por exemplo, de namoradas que dão aquela gostosa lapada bem no meio da fuça do namorado, na frente de todo mundo - para ser mais específica, dentro do bar que ele é o proprietário – e minutos depois fica tudo bem, com direito a beijinhos e abraços; sei de casos em que uma jovem apaixonada jogou pó de mico em seu muy amado companheiro, só para que ele implorasse a presença dela com carinhosas e totalmente altruístas coçadas; também teve o episódio em que por telefone o indigente mandou a pobre coitada descer de uma van, porque cismou (sabe-se lá o porquê) que ela estava mentindo o itinerário de volta do trabalho, e foi para a casa do cacete buscar a outrora donzela de carro, só para conferir se a moçoila se encontrava de fato aonde disse que estava.
Se eu fosse listar tudo que já vi, já fiquei sabendo ou até mesmo passei, ia escrever uma série de contos no estilo mais trash, daqueles que você não sabe se acredita que é verdade, não sabe se ri, não sabe se chora, ou não sabe se chora de rir. Mas por qual motivo eu resolvi citar esses pequenos –entre milhões de outros- casos de total perda de noção por questões passionais? Porque o evento que presenciei nesse final de semana me fez lembrar o motivo de eu estar solteira há tanto tempo.
Crise na madruga Pois muito bem. Fui eu de penetra para uma festa, junto com dois amigos e mais um casal. No começo da noite, tudo estava muito lindo. O problema brotou quando a manceba infanta começou a reclamar que sua outra metade da laranja enche o rabo de cachaça em todos os eventos, e só sai das festividades quando começam a varrer o chão. De fato, foi o que aconteceu nesse dia.
Eis que apagaram as luzes do salão e estávamos ainda ingerindo líquidos que integram álcool à sua composição. Todos muito felizes, menos, é claro, a púbere que devia no mínino estar desejosa de encerrar a noite com uma copulada romântica. Não foi bem o que aconteceu. Quando entramos no carro para retornar ao nosso domicílio, a jovenzinha, às 3hs da manhã, começou a dar crise no meio da rua, garantindo que não ia habitar o mesmo veículo automotor que seu adorável parceiro.
Caso alguém ache que ele se importou muito, na-na-ni-na-não. Ele fechou a porta da viatura, e se a rapariga não está lá até agora, foi porque nós tentamos zelar pela paz, enquanto o motorista da noite a convenceu de forma jovial a adentrar no quatro rodas. Porém, não foi a mais tranquila das viagens. Ela ficou gritando barbaridades alucinadamente, xingando o embriagado moço de nomes que até o coisa-ruim ficaria ofendido, enquanto ele, com toda a calma do mundo, respondia em suave e bom tom “só mais uma geladinha, amor”.
É, é isso mesmo, depois disso tudo, o capeta queria continuar se estragando de beber. Para ficar ainda mais gostoso, paramos na porta residencial dela: ela gritava em plenos pulmões igual uma gazela louca, ele insistia carinhosamente que queria “só mais uma geladinha”, uma alma sem luz que demos carona na volta ficava chamando minha amiga de “codorninha debochada”, nós duas tínhamos espasmos de risada, o motorista estava com cara de bunda presenciando toda a situação. Isso, às três e cacetada da madrugada. Todos – inclusive a namorada colérica - estávamos bêbados. Agora, visualize bem essa cena.
Não parou por aí. Numa manobra audaciosa, sem ter dado qualquer indício anterior de surtação, o lover-boy-pudim-de-cachaça abriu a porta do carro e saiu correndo pela rua igual um mongolóide,
A lá Forest Gump, sob a luz do luar. Enquanto minha dulcíssima amiga e eu não conseguíamos mais respirar de tanto rir, a jovem histérica berrava “ele é um palhaço” e o motorista corria – a pé – atrás dele.
Sensacional. O que ele deve ter pensado durante sua maratona-pré-aurora? “Depois dessa, ela vai entrar no prédio dela, eles vão passar na porta da minha casa para me buscar e a gente vai continuar a beber”. Afinal de contas, ele saiu possuído em direção ao seu lar, doce lar. Pois doce mesmo foi o equívoco dele. Bobinho. Ao que a decidida rebelde simplesmente berrou “Pode me levar para a casa dele, porque hoje, pela primeira vez na vida, depois de três anos, ele vai saber quem eu sou de verdade”. TENSÃO.
Quando estávamos chegando à casa do mancebo, visualizamos o vistoso rapaz em frente ao seu portão, esperando apenas pela nossa chegada, com um belo sorriso na face. Quando percebeu que em vez de amigos abrindo a porta do carro com um saudoso “entra aí” havia uma namorada possuída pelo capiroto – com razão, coitada -, ele saiu correndo para dentro de casa; fechou o portão e ficou segurando do lado de dentro, enquanto ela, do lado de fora, dava chutes e socos e gritos insanos, deixando clara sua vontade de adentrar no recinto.
Infelizmente não posso contar o que aconteceu logo após, pois não ficamos presenciando a adorável cena que ocorria sob os olhos dos corpos celestes que abençoam corações apaixonados. Preferimos encontrar um botequim e continuar bebendo. Não preciso dizer que no meio do boteco vimos outro casal quebrando o pau, com direito a belos “vai tomar no cu, seu filho da puta”. Foram embora após essa adorável cena, ela chorando, ele com cara de sofrido.
Minha sensível amiga, a "codorninha debochada" que apreciou todas essas manifestações românticas ao meu lado, confessou que sentiu muita falta de seus ex-namorados nesse exato momento. “Olha lá pra eles, coitados. Sabe o que vai acontecer agora? Eles vão para casa transar muito gostoso, cara. Todo mundo que tem essas brigas iguais as que a gente viu hoje, transa muito gostoso no final. Que falta que eu sinto de quando eu namorava”.
Pois é, tem maluco para tudo nesse mundo. E viva o amor.