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4 de nov. de 2010

Só Jesus

A religiosidade é uma coisa curiosa. Cura doenças do corpo e da alma, recupera riquezas e, em casos extremos, dribla a própria morte. Vide o que fez Jesus, aquele compadre faceiro. Mas 2 mil anos e uns quebrados depois, é cruzar uma esquina para ver com os próprios olhos - ou ouvir, em alto em bom som, graças à popularização de microfones e amplificadores - as consequências de um bocado generoso de fé.
Outro dia, em um laboratório de análises clínicas, se deu uma manifestação grandiosa do poder da mão de Deus. A fila para o atendimento era grande, e ir ao banheiro era uma questão de tempo. Afinal, o leite com toddy de todo dia não aguenta tanto tempo sem dizer a que veio. De dentro do reservado, era possível ouvir a conversa de duas moças de voz abafada.
- Estou ansiosa para o resultado do exame...
- Calma, vai dar tudo certo. Se você não se convencer, você repete.
- É... né? - refletia em voz alta, buscando aprovação. - Fico com medo... Aids é um problema muito sério... mas além de toda a polêmica da doença e todos os riscos de saúde, fico mesmo preocupada com a minha vida. No sentido metafísico mesmo.
- Sem drama, né. Que sentido metafísico o que... Fica dando adoidada... É nisso que dá.

Nessa hora, eu saía do meu cubículo. As duas freiras me olharam assustadas. De olhos arregalados, murmurei um Amém. Que Deus abençoe minhas mãos não lavadas.

3 comentários:

  1. muito bacana seu blog, descobri esses dias... sei que não temos intimidade alguma mais sempre admirei aquela menina de longos cabelos pretos, a vida passa e as pessoas tbm mais as características ficam, sempre que puder virei aki espiar.. bjs gabi

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Áhh, que fofo você comentar!!!