- Dona Marisaaaaaaaaaa!!!!! Dona Marisaaaaaaaaaa!!!!!
Ouvi o grito grave que vinha do portão da frente. Tinha acabado de acordar, escovava os dentes no tanque que fica nos fundos da área de serviço.
Lavei a boca, bati escova no tanque.
Eu de pijama e cabelo espalhafatoso, fui até o portão. Antes, berrei um típico:
Eu de pijama e cabelo espalhafatoso, fui até o portão. Antes, berrei um típico:
– Já vaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai!!!!
Abri o portão e dei de cara com um rapazinho magrelo. Aparentava uns 24 anos, suado e mal vestido. Segurava na mão uma prancheta velha, onde parecia conferir o endereço da casa. O cara me olhou ansioso e deu um sorriso amarelo.
- Pois não? Disse, protegendo meus olhos do sol ofuscante de Bangu.
- Oi menina, sou o “moço do suco”, a dona Marisa “taí”?
- Não, ela saiu, mas, você disse que é quem mesmo?
- O “moço do suco”, Suco Bom Paladar.
- Sim, mas o que seria isso?
O rapaz indignado com minha pergunta respondeu:
- O Suco pô, você não bebeu? Sua mãe comprou.
Apertei os olhos com intuito de recordar depressa, suco? suco? suco?
- Áhh sim, Suco de caju e de uva!
- Isso mesmo, sua mãe comprou semana passada.
De fato, minha mãe apareceu com duas garrafas de suco, que diluem em água, esses que são tipo xarope, “Maguari”. Claro, eu bebi, achei q ela tivesse comprado no mercado e tal. Mas acabei descobrindo a origem dos sucos, o "moço do suco" havia vendido as garrafas.
- Sim, sei, mas o que é que tem? Ela não tá em casa, posso ajudar?
- É que fiquei de passar por aqui hoje, pra pegar o dinheiro dos sucos.
Na mesma hora perguntei a Deus onde minha mãe ia parar.
Há tempos ela tem mania de comprar coisas na porta a prestação, diz que é muito mais cômodo. Ela compra edredom, lençóis, cadeira, panelas, gato e sapato. Mas, cá entre nós, comprar suco na porta pra pagar depois é realmente um caso preocupante.
- Então, ela deixou o dinheiro? Resmungou o moçoilo.
- Ah sim, digo, não, quanto é?
- É dez "real".
Pensei, mas não tinha dez reais em casa, aliás ultimamente não tenho tido nada.
- Não, ela não deixou, sinto muito, volte depois, por favor.
- Tá, fala pra ela que o moço do suco teve aqui. E que vou trazer o de acerola que ela pediu.
- Ah sim, ela pediu, tudo bem eu aviso, obrigada.
O “moço do suco” foi embora cabisbaixo, com intuito de voltar e trazer outra garrafa com suco de acerola. Aliás, geralmente todos os cobradores saem daqui com quase nada nas mãos.
Entrei, sentei na escada da sala e fiquei pensando se existe algum tipo de terapia para essa compulsão de comprar na porta de casa. Sempre me preocupei com essa mania dela, essa coisa de comprar, comprar, e é só na porta. Mas de tudo que ela já comprou na porta, essa história do suco realmente me chocou.
Já passavam das nove da manhã e ao sentar-se à mesa pra tomar o meu café, notei que pra beber tinha café e suco de caju, bem gelado. Como gosto de café, fiquei com o suco de marca Bom Paladar.
Daí bebendo o tal suco, comecei a achar que essa coisa de comprá-lo na porta pra pagar depois não tinha sido tão grave assim, talvez minha mãe tenha feito isso pra ajudar o cara, ela adora ajudar todo mundo.
Mas meu pensamento logo mudou quando uma segunda voz grave gritou no portão da frente:
- Dona Marisaaaaaa!!!
Adivinhem? Era o “moço do queijo”
Uma postagem com aquele jeito carioca.
ResponderExcluirAqui em Porto Alegre, tem o moço do mel, dos desinfetantes sanitários, da rapadura, etc e tal.
Normalmente, eles não fazem fiado...
Aproveite seu café e mande ver aquele suco de caju bem adoçado...
Beijão.
Ricardo Mainieri
Amei sua crônica! :)Aqui em Fortaleza tambem tem, so não tem fiado. Tem os que passam a pé, chamados (Galegos) e os que passam de carro com sistema de som. Tem o carro do sorvete, o carro das frutas, o carro das redes....
ResponderExcluirPois é gente, aqui é assim, o pessoal vende até a mãe fiado, o importante é fazer o freguês feliz.
ResponderExcluirCariocas são grandes empreendedores... ahahha
beijoooo!