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19 de mai. de 2010

Vizinhança


Cresci em um pequeno bairro da Zona Oeste. Lá todas as pessoas da mesma rua se conheciam, os moradores das ruas paralelas também, assim como os das transversais. Interessante como, mesmo sem querer, eu conhecia quase todo o bairro. Sabia exatamente quem era morador, parente ou conhecido de alguém da região.
Os encontrinhos, festinhas e afins eram eventos comum a todos. Nem sempre precisava avisar todo mundo pra encher a casa. A música alta, a fumaça da churrasqueira ou o falatório eram convites eficientes.
O único problema desse contato todo era a constante invasão de privacidade. Fofoca mesmo. Se você andasse ‘fora da linha’, a rua toda saberia do fato no dia seguinte. Como eu nunca me importei para comentários alheios, línguas afiadas não me afetavam.
Depois que me mudei para Lapa, percebi que nesses prédios enormes, onde moram centenas ou milhares de pessoas, como o meu (18 andares, com 10 apartamentos por andar), o senso de comunidade quase que se perde.
As pessoas não se encaram. O elevador pode estar com mais três pessoas, mas todas fingem estar muito ocupadas com seus pensamentos pra iniciar um conversa amigável com seu vizinho de porta. Às vezes pode-se ouvir um fraco bom dia, boa tarde ou boa noite. No entanto, o cumprimento soa nos ouvidos com o tom de obrigação tão forte, que é preferível não ouvi-lo.
Dia desses ouvi um caso onde uma senhora, moradora desses prédios sem alma, morreu durante o banho. O fato foi que o corpo só foi achado uma semana depois do acontecido. A única pessoa que percebeu a ausência da senhora foi o porteiro. Os moradores do prédio e vizinhos só souberam do fato através do quadro de avisos que fica próximo ao elevador. Mesmo assim, muitos não sabiam quem tinha falecido.
É triste morar em um lugar onde as pessoas não se conhecem.
Mas os vizinhos do meu bloco até que são bem simpáticos. O vizinho do lado é um solteirão, meia idade, que tem um filho de mais ou menos sete anos. Sempre cordial. A vizinha de porta dele é a dona do bar debaixo da garagem do prédio, onde toca samba todas as sextas e sábados. A família é grande e agitada. E por fim, tem a minha vizinha de porta. Um amor de pessoa, diga-se.
Ela é a única pessoa que me faz remeter àquelas vizinhas de bairro, sabe? Sempre educada, boa de papo (um caso pode durar horas de narração) e cozinheira de mão cheia. Vira e mexe ela surpreende ofertando alguns quitutes como cuca de banana, calça virada, feijoada, bolo de fubá quentinho etc. Parece que ela fica à espreita esperando algum movimento no eu apartamento para papear, contar casos e oferecer algo gostoso.
No dia em que o marido da vizinha faleceu, fui eu quem a levou até o cemitério para o velório. Ela estava sozinha e não tinha nenhum parente na cidade. Depois desse dia triste, um elo foi criado.
Percebi que em meio ao caos e ao descaso, ainda pode existir gentileza.

2 comentários:

  1. E a família agradece, améms!

    QUE ME VENHA ESSA CUCA DE BANANAAAA

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  2. .

    Eu bebo porque é líguido,
    mas se não fosse eu ralava
    e tomava com vodca.

    silvioafonso








    .

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Áhh, que fofo você comentar!!!