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30 de out. de 2010

A Vanessão, minhas considerações.

Às vezes eu me sinto um travesti...
No instante em que me enxergo à margem, me sinto uma mulher no corpo de um homem, desfigurado pela ansiedade do abrigo. Um corpo massudo, que grita guturalmente sem ninguém ouvir, dançando e se movimentando na música da esperança.
No entanto, ninguém ouve, o grito vai de dentro para dentro dele mesmo, ecoando ao nada, passando longe dos tímpanos gastos, longe dos olhos refluídos.
Me sinto um travesti quando atropelo meus próprios contratempos, os que são criados pelo meu âmago contristado de tanto perder a guerra.
E quando me vejo com as mãos nas partes íntimas, feridas de tanto atritar-se com o mundo que não me alcança, me sinto um travesti de coração partido à beira do caminho.
Perdida numa penumbra de solidão corpórea que não se atrela ao pensamento concatenado de pessoas triviais, eu me sinto uma mulher, presa ao corpo de um homem.
Trajando roupas não compreendidas, à noite, me sinto um travesti no meio da imundice inexplorada de ideias desocupadas.
Me vejo precisamente igual a um travesti quando me falta conhecimento, quando sei que sou laica ou, quando, num ímpeto de desespero, por consentimento, mijo em pé, anulando a genética do meu cadáver de mulher.
Me sinto um travesti quando quero pulsar a arte para fora de mim e a língua cingida me esgana por dentro, pendendo cansada para fora do meu homem confuso.
E quando preciso ser abrutalhada e rude por sonhos de aventuras incandescentes, não me reconheço célere no espelho. Entre as pernas, experimento a redenção que serve para alimentar a fome das entranhas em brasa. Meu triunfo e meu declínio. Meu falo, que fala por mim, quando eu me calo. 

3 comentários:

Áhh, que fofo você comentar!!!