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21 de mai. de 2011

coma nº 4

Dei-me conta de que ela não passava de um borrão desnutrido da memória, que eu alimentava na esperança de que tornasse palpável, correspondesse aos meus afetos, saciasse meus desejos. Que se tornasse corpo, aberto e dessemelhante. Se a porta que me encarava não mais se abrisse aos encantos dela, aos encantos do meu borrão, aos encantos do meu rascunho, me
restaria um único canto, um canto fundo, sem notas, ritmo ou melodia. Um canto desarmônico na parede fria, com meus olhos fechados para sempre. Porque os olhos só se fecham ao êxtase ou à morte; ao movimento do gozo ou à paralisia do desgosto. Alegria é a prova dos nove ou é à prova de balas.
Ela finalmente escancarou a porta. Sua pele lisa tinha a cor e a resistência do mármore negro. Naquela sala asséptica, de paredes brancas e ar inodoro, as sensações que aquele corpo exalava eram a imantação da vida. O poder daquele corpo, a um tempo sólido e solícito, mergulhou-me num estupor de passividade. Só me cabia esperar que o seu corpo negro e liso se lisonjeasse de minha alma máscula e de meu corpo feminino, ávida por ser absorvida e penetrada pelos seus poros semiabertos.
Conforme se aproximava, esguia e lenta, em minha direção, sentia sua respiração calma e sedenta, meus batimentos aceleravam, meus poros e músculos pulsavam. Nosso toque era iminente. Sua boca de carne vermelha mirava minha boca, seus seios negros e rijos, de mamilos eretos, miravam os meus seios pequenos, suas mãos passeavam meu rosto, meus restos; seus lábios inferiores molhavam meus lábios todos; seus braços miravam um abraço.
Nossas almas cerraram os olhos em êxtase.

Um comentário:

Áhh, que fofo você comentar!!!