“todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente da religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara a loucura. No geral. Isso é que é a salvação-da-alma... Muita religião, seu moço!”
Quem escreveu foi o digníssimo, morto e enterrado, porém ainda vivo Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas. O trecho desse clássico da literatura brasileira me fez recordar uma de minhas aventuras quando universitária, em que durante um projeto antropológico tive que experimentar o tal “estranhamento” dos que interagem em culturas que não são nativos. Pois bem, como bela ateia que sou, nada melhor do que me esbaldar estranhando alguma dessas religiões fundamentalistas; e lá fui eu, me embrenhar em uma conhecida igreja “de crente”.
Acreditem, eu, que sempre achei um absurdo essa insistência do ser humano em aceitar dogmas que não me entram na cabeça, quase abri minha esmirrada carteira e fiz uma pequena contribuição durante o culto. Não que eu tenha sido contagiada pelo lero-lero que ouvi. Pura lorota, enrolação total – com todo respeito aos seguidores da religião, é claro. O que me deixou abismada foi a fé das pessoas. Elas realmente acreditavam em tudo o que ouviam. Sem o menor pudor, berravam, pulavam, em um misto de “aleluia irmão” e “eu acredito” que só vendo mesmo para acreditar. E a Coladinha aqui, mera espectadora, que fez de tudo para não chamar a atenção naquele ambiente - que em minha concepção era no mínimo excêntrico - fui justamente o centro dos olhares mais incriminadores, por não me render aos rompantes religiosos em nome do Senhor-Todo-Poderoso.
Quando a socióloga disse que depois de interagir com a cultura escolhida nossa visão ia mudar, mesmo já tendo realizado uma vasta pesquisa sobre o tema, ah-há, claro, não acreditei. Fui ao tal culto só para confirmar o que eu já sabia: pilantragem em cima de uns fanáticos enlouquecidos. Mas... Não vamos dizer que mudei de ideia, mas ampliei minha visão. Existem pessoas que precisam desesperadamente acreditar em alguma coisa para suportar as idas e vindas da vida. E quem sou eu para criticar?
De minha parte, prefiro não aderir à crença religiosa alguma e continuar louca de verdade, como disse um dos meus ícones literários, o Rosa. Não, não sou nenhuma niilista, mas o que posso fazer se tudo o que gosto e faço é pecado? Prefiro continuar não acreditando que vou passar a eternidade queimando no fogo do inferno. Portanto, se a minha vida terrena é baseada em momentos orgasticamente profanos, os religiosos que não me condenem, pois eu não falo nada deles. Mas, por favor, que ninguém venha se explodir perto de mim.
Quem escreveu foi o digníssimo, morto e enterrado, porém ainda vivo Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas. O trecho desse clássico da literatura brasileira me fez recordar uma de minhas aventuras quando universitária, em que durante um projeto antropológico tive que experimentar o tal “estranhamento” dos que interagem em culturas que não são nativos. Pois bem, como bela ateia que sou, nada melhor do que me esbaldar estranhando alguma dessas religiões fundamentalistas; e lá fui eu, me embrenhar em uma conhecida igreja “de crente”.
Acreditem, eu, que sempre achei um absurdo essa insistência do ser humano em aceitar dogmas que não me entram na cabeça, quase abri minha esmirrada carteira e fiz uma pequena contribuição durante o culto. Não que eu tenha sido contagiada pelo lero-lero que ouvi. Pura lorota, enrolação total – com todo respeito aos seguidores da religião, é claro. O que me deixou abismada foi a fé das pessoas. Elas realmente acreditavam em tudo o que ouviam. Sem o menor pudor, berravam, pulavam, em um misto de “aleluia irmão” e “eu acredito” que só vendo mesmo para acreditar. E a Coladinha aqui, mera espectadora, que fez de tudo para não chamar a atenção naquele ambiente - que em minha concepção era no mínimo excêntrico - fui justamente o centro dos olhares mais incriminadores, por não me render aos rompantes religiosos em nome do Senhor-Todo-Poderoso.
Quando a socióloga disse que depois de interagir com a cultura escolhida nossa visão ia mudar, mesmo já tendo realizado uma vasta pesquisa sobre o tema, ah-há, claro, não acreditei. Fui ao tal culto só para confirmar o que eu já sabia: pilantragem em cima de uns fanáticos enlouquecidos. Mas... Não vamos dizer que mudei de ideia, mas ampliei minha visão. Existem pessoas que precisam desesperadamente acreditar em alguma coisa para suportar as idas e vindas da vida. E quem sou eu para criticar?
De minha parte, prefiro não aderir à crença religiosa alguma e continuar louca de verdade, como disse um dos meus ícones literários, o Rosa. Não, não sou nenhuma niilista, mas o que posso fazer se tudo o que gosto e faço é pecado? Prefiro continuar não acreditando que vou passar a eternidade queimando no fogo do inferno. Portanto, se a minha vida terrena é baseada em momentos orgasticamente profanos, os religiosos que não me condenem, pois eu não falo nada deles. Mas, por favor, que ninguém venha se explodir perto de mim.
Minha mãe é tão pirada que precisa de fé pra se equilibrar, eu acho um absurdo, visto que ela sempre questionou os assuntos humanos.
ResponderExcluirPois bem, depois de velha ela me pareceu assim, ok, continuo amando-a!
É só o que posso fazer!
As pessoas encontram meios para suportar a insustentável leveza do ser. Você encontrou a sua, eles encontram a deles. O verdadeiro problema não são os fiéis, mas os picaretas que se utilizam da fragilidade da condição humana para construir aqui na terra seus paraísos fiscais e artificiais.
ResponderExcluirA relação entre fé, Deus, índole e picaretagem é algo que não anula em nada o sentido primordial da religião. Suponha que haja um quarto cubico sem janelas e dentro dele um quarto de dimensão menor com janelas. Se alguém altera a emissão de luz para uma pessoa confinada no quarto menor, seria possível, ludibriar a percepção dessa pessoa sobre o dia e noite. Por exemplo, acendendo lâmpadas durante à noite, e mantendo o escuro absoluto durante o dia. Mas apesar desse truque, o dia e a noite continuam.
ResponderExcluirA religião não é um apoio para alguém aguentar certas desavenças da vida. A religião está longe de ser simplesmente um "conjunto de dogmas". Por fim, fundamentalismo é o a atitude de querer impor um padrão para todos, com base em uma religião específica.
O mais importante não é a escolha ou prática de uma religião. Mas o surgimento inevitável de uma mente religiosa. A mente religiosa surge quando há uma profunda crise existencial, não uma crise supérflua pela não realização disto ou daquilo. Mas uma crise profunda e intransponível. Daí surge o fato de que é impossível preencher aquele vazio tão íntimo que todos querem calar seja com a tecnologia, com atividade incessantes, seja com companhias o tempo inteiro, seja com drogas, bebidas, sexo. E não se exclui disso, a própria igreja. Se a pessoa almeja, através da religião, obter seu preenchimento. Então essa atividade é só parte do sufocamento da solidão. A verdadeira mente religiosa busca compreender o vazio existencial e superá-lo dando uma nova dimensão, uma nova perspectiva existencial. Nesse momento, a conduta sofre uma alteração espontânea, que acaba por ser tornar os dogmas. A loucura é justamente o ato de sufocar a solidão. Muito têm êxito em preencher seu vazio, esses são as pessoas mais fúteis.