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29 de dez. de 2010

Frustrações sexuais


Há muito não relato aqui minhas peripécias vaginais. Pois me recordei agora de um acontecimento deveras peculiar, que merece registro em tão distinto blog. Peço que nossos leitores apreciem com atenção essa narrativa, que para variar, só poderia ter EU como protagonista. Afinal, por alguma razão metafísica de proporções escatológicas que desconheço, esse tipo de coisa só acontece comigo.

O início dessa crônica é igual a todos os outros: “estava eu em um evento, enchendo o rabo de líquido que contém elevado teor alcoólico em sua composição, blá-blá-blá”. Pois bem, quando resolvi retornar ao lar, às 8hs da matina, senhor meu pai estava no portão do recinto; acompanhava nosso estimado cão, que se aliviava conforme suas necessidades fisiológicas. Ao observar tão bela cena durante o crepúsculo da manhã, não consegui disfarçar minha embriaguez e fiz um belo escândalo. Não contente com o estado de choque de meu genitor, eu disse que não entraria em casa, pois ia beber mais na casa de nosso saudoso José Cuervo.

Claro que aquele espírito de porco do José se recusou a abrir a porta para mim, haja vista que ele estava copulando com uma dulcíssima donzela. E fui eu, dormir na casa de um dos meus geradores de prazer. Chegando ao lar do adorável pimpão, constatei que todos os seus residentes estavam acordados, o que não me impediu de fazer novo escândalo. Após homérico vexame, caí na cama mais bêbada que um gambá, sem sequer pensar na possibilidade de transar, já que a porta do quarto estava sem tranca e podia-se ouvir o som das crianças gritando e dos cachorros latindo, durante um divertido café da manhã em família.

Quando eu já estava quase no milésimo sono, veio a alma sem luz, cheio de amor para dar, e eis que não resisti. Claro que deveríamos fazer algo na descrição, e conhecendo meu estilo “cocotinha escandalosa”, ele implorou que eu não transmitisse nenhum tipo de ruído demasiado elevado. Ele queria ficar só de ladinho, assim poderíamos despistar caso alguém abrisse a porta bruscamente. Mas como não sou dessas de calmaria na hora do amor, comecei a me empolgar, para desespero do jovem rapaz.

Após chegar ao ápice do prazer, cismei que queria ficar em cima. O fato de ele tentar negar não me impediu de subir em seu corpitio, dar uma forte rebolada e ouvir em seguida um baita CRECK da cama. Calma, ela não chegou a quebrar, mas eu fiquei puta e me neguei a continuar transando. “Agora não quero mais. Já gozei, estou satisfeita, se você ainda não resolveu seu problema, entenda-se com suas mãos”. Muito franca, eu queria mais sexo com força, mas se não ia ter sexo com força, que os dois fossem dormir na vontade, e foi exatamente isso o que aconteceu. Porque eu sou bem dessas, ruim e egoísta.

Fiquei MESMO na vontade

Eis que no dia seguinte, as chamas do prazer me possuíam e eu queria transar de qualquer jeito. Para minha sorte, anoiteceu e encontrei outro de meus geradores de prazer em uma festa, logo, pensei: “Enfim, hoje vai ter”. Na hora de irmos embora, rolou no carro uns amassos daqui, outros de lá, e quando eu estava cheia de fogo, crente, crente que ia – enfim – dar uma cruzada bem dada, adivinhem o que aconteceu??? Ele Gozou. Isso mesmo, GOZOU antes de minha pepequinha abraçar o pintinho dele.

Nem preciso dizer que fiquei possuída pelo capiroto de tanta raiva. Mandei o Mr. Rapidinho me deixar em casa e fui dormir muito, muito, muito puta das calças. Transada boa mesmo, eu não dei com ninguém. Agora, por favor, me digam, qual é o meu problema? Um não me come direito, o outro dá uma cuspidela antes de me comer, e não vamos esquecer aquele fato narrado aqui num post anterior, em que o engraçado sequer conseguiu animar o bilauzinho, porque broxou, BROXOOOOOOOU.

Sinceramente, acho que no dia em que um homem me pegar de jeito (ou pelo menos me pegar direito), eu me apaixono. JURO.

25 de dez. de 2010

Observações natalinas


Estava eu ontem com minha adorável família em mais uma das sempre divertidas comemorações natalinas. Como sempre, banquei o papel de fotógrafa, porque esses adoráveis senhores (que possuem o mesmo tipo sanguíneo que o meu) não me permitem descansar nem mesmo em minha folga.

Pois estava eu lá, registrando com vários cliques, enquanto meus pimpolhos priminhos abriam felizes da vida os presentes que se encontravam embaixo da árvore de natal - deixados supostamente pelo saudoso velhinho pelancudo, de longas madeixas brancas.

Ao que, pacotes abertos, um de meus primos fez a brilhante observação: “Ta vendo aí? Depois vocês vêm falar de sociedade machista. Mas olha os presentes da Luiza e do Matheus. Enquanto ela só ganhou bonequinhas e conjuntinhos de cozinha, ele ganhou brinquedos que incitam violência, como esse boneco de luta aí. Vocês querem mudar, mas já ensinam às crianças errado desde cedo”.

Muito, muito, muito bem observado. Palmas para ele.

16 de dez. de 2010

Periquito-Homem



Ato 1


Ele me veio quando o livro sagrado foi aberto. Dentro das palavras uma dobradura em forma de pássaro, um periquito robusto e verde, com rabo de belas penas, saltou aos meus olhos, lânguido.  No momento em que permiti a tal artimanha, o bípede encheu-se de vida diante das palavras de exortação do Rei Davi ao povo de Jerusalém no primeiro livro de Eclesiastes:
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou; Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar; Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar; Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora; Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar; Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz”.
A criatura voou  para fora da página, num ímpeto de liberdade, como se fosse tempo de vir à tona, respirar o ar, tornar-se abarrotado. Se fazendo vivo e pulsante a partir do meu sonho. Ao ouvir o canto tristonho do periquito que voava pelos quatro cantos da sala, atordoado pelas palavras e pela própria canção que trazia no bico, desejei nunca ter aberto o livro e desejei mais ainda nunca ter manifestado das palavras, aquele periquito verde água tão lírico, mas sabia que já era tarde.

Ato 2 

O tempo foi passando como decretava as exortações do Rei, entretanto, nossa relação foi acutilada pela mutação dele, e sem que eu notasse, o periquito alcançara a imagem e semelhança de um homem, tão jovem quanto eu. Era curioso o sopro do periquito-homem, e agora que possuía miolo de humano e raciocínio de gente e não de bicho, cobiçava novos vôos em terra, cavando sua trajetória, cravando os pés no mundo.  Não era mais pássaro, não tinha mais bico, nem cantava mais aflito, não comia mais sementes, nem tinha medo de gente, muito menos cairia em bestas arapucas pungentes.


Ato 3

Foram tempos de muita dor. Meu cerne se encheu de martírio ao entender que o periquito lânguido e verde havia se desvairado e adquirido senso crítico. E lacrimejei, pensando que não era mais o meu sonho, agora eram os sonhos do homem-periquito. Numa ocasião em que estávamos a sós, tentei num abraço maquiavélico, reduzi-lo ao ponto de partida, a dobradura origami dentro da bíblia. Mas o periquito-homem me olhou com desconfiança e pesar, indagando os motivos do aperto forte e desmedido. Abaixou os olhos e saiu com a roupa do corpo, humano e desapontado.  

Ato 4

Dias depois, recebi um bilhete enfeitado de penas verdes água, a princípio, não pude entender em que tempo estavam os verbos, mas as palavras simples me indicaram o que havia de ser: “Pois, você me desprezou, senti que era tempo de odiar aquela que me deu o sopro da vida na ilusão, experimentei o estar vivo, lhe sou grato e lhe tenho amor de pássaro”.


Fim

O periquito-homem nunca mais voltou para casa, afastou-se de mim para sempre, não sei se por medo, tristeza, ódio, ou se talvez por amor, não sei se por saudades de céu, mato ou de mar. Foi difícil aceitar, mas, com o passar dos anos entendi que periquito-homem é de  tempo longínquo, quiçá inalcançável, antes mesmo das denominações das coisas e das palavras, antes mesmo do tempo, do intento da poesia, antes da imaginação de um sonho.


13 de dez. de 2010

Nudez

As roupas estão sufocando meu corpo, que transpira nessa tarde de dezembro. Estão úmidas, grudando na pele, limitando movimentos. Camadas e mais camadas de tecido estão impedindo que eu me sinta, não deixam meus poros respirarem. E me vem um querer que não entendo, esse querer de me despir, não importa onde eu esteja agora; estou me desfazendo de cada pedaço de pano que esconde minhas partes, meus pudores.

Mas essa pálida sensação de liberdade, que está brotando sem pretensões a cada peça retirada, esmorece com o julgamento covarde de quem não compreende o calor que estou sentindo. Ainda assim, minha vontade ultrapassa os limites do que seria sensato – essa moralidade estúpida e hipócrita – e eu insisto.

Agora, sinto uma euforia ainda maior, enquanto vou sendo invadida pelo desejo de arrancar esses trapos e jogar todos bem longe de mim. Emaranhado de linhas tão caras, talvez até mesmo para você, mas que para mim não têm valor algum. E quanto mais eu tiro, mais recriminada eu sou. O que posso fazer se está muito quente e minha carne derrete com todo esse vapor, essa umidade escaldante?

Não quero ninguém me protegendo do sol, deixem-me queimar sozinha e em paz. Mas por inveja, por despeito, quem sabe covardia, não me deixam. Ninguém está preparado para enfrentar minha nudez. E me escondo – muito – por debaixo dessas mantas, desses pêlos, dessas peles que não são minhas. E que me fazem querer gritar.

Quarenta minutos.


"Tinha então 20 e poucos anos e, alguns diriam também, sorte na vida: apesar de alguns traumas na infância - inerentes aos que passam por grandes choques, como a separação dos pais, morte de um ente querido ou ser esquecido na escola - tinha uma situação econômica tranquila, era inteligente, linda e muito simpática. Sempre rodeada de amigos, fazia até mesmo as rivais darem o braço a torcer. Não tinha quem resistisse ao charme de Júlia.

Entre o grupo de amigas de longa data era espevitada e muito querida. Todas, sem exceção, celebravam o fato da pequena ter, além de sorte no jogo, também ter garantido cedo a tal "sorte no amor". Encontrara o par ideal. "Perfeito!", diziam todos. Não deixava de ser verdade. Antes dos 30 anos, o sujeito já era muito bem sucedido. Era culto e doutor, duas qualidades muito apreciadas. Já tinha uma vida estável e não era chegado a badalações. "Onde você vai arrumar outro igual?", bradavam todas. De fato, Danilo era um exemplo de homem. Cavalheiro, gentil, inteligentíssimo - "tem até livro publicado", lembrou uma das meninas. Danilo estava mesmo na prateleira das raridades.

Quando Júlia enfim se formou, anunciou que se arriscaria na carreira de escritora. A notícia agradou a família. A mãe, respeitabilíssima e mulher de fibra, ajudaria e custearia os cursos posteriores. Orgulhava-se do talento da filha e esforçava-se para ajudar em sua educação. Conheceu então muita gente nova, começou a ser reconhecida precocemente pelo seu trabalho. A vida não poderia estar melhor.

Mas no fundo, dentro da jaula do seu coração, Júlia sabia que algo estava para acontecer. As mudanças que a vida nos proporciona são inesperadas e essa é graça em viver. Mas ela tinha medo. Olhava as mulheres que a rodeavam e percebia em cada uma peculiaridades, gostos diferentes, ousadias. Foi aí que conheceu alguém inesperadamente (e não seriam esses os melhores encontros?).

Margarida entrou no café e logo se lembrou da moça que acabara de conhecer na editora. Aproximou-se e deu um sorriso. "Posso me sentar?" A resposta afirmativa abriu precedentes para outros encontros furtivos, no meio da tarde, que a cada dia tornavam-se mais intensos e tornaram-se mais frequentes. Já não sabia o que estava acontecendo. Margarida era uma editora importante, casada e na casa dos 40 anos. Independente e moderna, reclamava sempre das crises matrimoniais, encerrando os casos com a frase "não vá casar, Ju! Isso é uma besteira". Havia se anulado.

Embora ainda viva e alegre, casou-se com um empresário mais velho, vindo de outros dois casamentos e com filhos - o que tirou dela a chance de ter os seus. Júlia, com o tempo, ficava mais intrigada: o que ainda a mantinha junto a alguém tão diferente assim? Depois do chá na confeitaria preferida, Júlia pegou o ônibus e seguiu para o Jardim Botânico, onde encontraria Danilo num sarau. No meio do caminho, ele manda uma mensagem, dizendo-se indisposto. Ela seguiu para a casa dele, onde passavam cada vez mais tempo. Ele resistia em conhecer seus amigos. Ficava em casa, em meio aos livros. Ela passava todo o fim de semana ao lado dele, riam juntos, assistiam filmes, ele cozinhava. Mas de repente, um blackout.

No escuro, ela tateava para tentar encontrar a si mesma. Danilo continuava impassível. Não fazia diferença. Ela relutou em seguir no breu. Mas ia em frente. Como todo cego precisa de um guia, deixava-se levar pelo acompanhante mais próximo, mais antigo, mais perfeito. Mas como saber o que é perfeito quando se descobre que, na verdade, nunca tinha enxergado até então? Na rua, os óculos escuros a ajudavam a barrar a claridade, violenta e penetrante. Tudo era mais vivo, mais vibrante. Tudo eram flores. E quando se trata de um jardim, é sempre assim: todos acham a grama do vizinho mais verde. Ninguém sabia da escuridão do apartamento, ninguém enxergaria luto em meio à fantasia, cada vez mais rota, desajustada, apertada, sufocante.

Acordou em sobressalto. Virou pro lado e olhou o companheiro pela última vez. Almoçaram no silêncio. Ela disse meia dúzia de palavras firmes, recolheu suas coisas e saiu. Do outro lado da cidade, Margarida chegava na praia e lembrava da menina por quem tinha... Tinha o que? Estaria apaixonada? Tentou ligar, mas o celular de Júlia tinha se perdido no caminho. Foi pra casa com a convicção de seguir encenando uma vida que erroneamente tinha acredito ser sua. Ao abrir a porta, a surpresa: o marido estava saindo de casa. Sem lágrimas e sem pudor dizia que não aguentava mais, tinha se apaixonado pela assistente e precisava de um tempo para pensar. Deixou o apartamento alugado no mesmo dia.

Margarida e Júlia marcaram de se ver na mesma tarde, no café onde se encontraram ao acaso pela primeira vez. As palavras corriam todas pelo céu da boca e como estavam embaralhadas, retornavam ao estômago e causavam ainda mais nervoso. Falaram de projeto, dos últimos acontecimentos, das expectativas. Foi Júlia quem tomou então a iniciativa: vamos até lá em casa? A paixão esperou apenas até o carro, onde estariam a salvo da hostilidade e dos olhares de reprovação."

10 de dez. de 2010

A Pica do Ming


Shunga Utamaro - Miyakawa Choshun (1682–1753), The Flowered Robe
gélida, encolhida em pano que carrega
o pincel vai pintar o gozo d’alma.
o toque úmido da língua dura
Ming traz a pica’tona.
- toma com goela! grita!

namora a coisa, atassalha
mama na manha, se assanha
ronrona de júbilo,
-hallelujah!

arromba a tua redenção,
no esguicho da pica’dura!
-ahhhhh, Ming!  

consagra-te enquanto há tempo,
ele é curto, fatal como a pica’douro,
que coisa boa não é de muito
na vida, pica passa tempo, mole fica! 

1 de dez. de 2010

Folga












Tomou um gole d'água gelado que lhe fez doer a garganta. Os olhos estavam banhados de lágrimas resistentes, que teimavam em não cair, dependuradas nos cílios longos e pretos. O bolo negro da angústia não descia, ficara estacionado no peito e acomodava-se, tomando - minuto a minuto - cada vez mais espaço dentro do corpo agora não tão mais magro, mas frágil, fraco, amarelo. Olhava de um lado para o outro. Foi à janela e soltou um urro, seco, que ninguém ouviu. Ninguém mais a via. Andava na rua com a certeza da brevidade de tudo: dos risos, dos abraços, das juras, dos planos... Menos da dor. Essa tinha se tornado estranhamente parte dela.

Seguia o caminho obrigatório e com o peso das expectativas dos outros nas costas. Perdeu-se. Tentou dar a volta, refazer a trilha... Um som grave vinha de algum lugar e a deixava calma... Como não restava mais alternativa, deixou-se levar pelo estribilho grudento como chiclé (achava graça quando falavam "chiclé"). Passou por parques, por ruínas, pelo centro da cidade inóspita e fria, apesar do calor. Viu prédios altos, viu muitas pessoas, olhou nos olhos delas... Todos abrumados, com uma cortina na frente, não se deixavam invadir por completo...

Chegou na praia. Ouviu o silêncio. O vento era algo inexplicável: pensou em como ele existe sem podermos ver, como move as coisas, mexe com as pessoas. Pensou em quantos grãos de areia existem mo mundo, em como somos pequenos perto do mar, pensou em como soam tão idiotas todas essas considerações. Pensou, pensou.. E foi sem pensar que, num ato lento e delicado, caminhou até a beira da água e entrou no mar... Como mortalha, apenas a camiseta branca, que resistiu em tirar, talvez por um pudor tardio, talvez por ter esquecido...

28 de nov. de 2010

Órfã





















Ainda que me sangrem como um leitão
Virem minhas tripas
Decepem minha cabeça, roam meus ossos.

Estraçalhem minha cabeça
com um golpe forte e preciso
e arranquem - um por um - todos os membros do meu corpo.

Ceguem meus olhos
cortem minha língua
torçam meu pescoço
queiram me seviciar com um mastro.

Meu corpo estará em torpor
Já nada me atinge...

Sem você, eu sou a dor...

24 de nov. de 2010

Oxiúros lunáticos


a sobra nutre o solo estéril
do coração que arqueja
cevando vermes poetas
baldios como poemas,
sintéticos na imensidão

tripudia por aresta defuntas,
o calo da poesia,
onde encontra voz
na mata por fora da vida,
no grito do grilo espesso,
no gracejo do percevejo,
o verme chora... esperando lua

23 de nov. de 2010

Blindex – O mito (Capítulo final)


No dia seguinte ao fatídico evento, em que um contrato de P.A. (Pau Amigo) foi estipulado, meu sócio foi me buscar at home. O carnaval estava próximo e a folia carioca bombava nos blocos do Rio de Janeiro. Todos os amigos estavam presentes. No auge de minha felicidade, não contente em brindar minhas já conhecidas homéricas estripulias à-la-mode-tradicional, ou seja, consumindo uma leve cevada, inventei de beber tequila.

O problema é que não tinha sal, não tinha limão, não tinha sequer um recipiente adequado para depositar o líquido etílico. E lá fui eu, encher um copo plástico com a suntuosa bebida, para virar tudinho de uma vez, num braço só. Acabou o bloco, fomos para uma festa, e eu continuei bebendo. Acabou a festa, nós fomos para outra festa, e eu ainda bebendo. Essa última, na casa de um grande amigo nosso, que por já ter sido citado em alguns posts aqui, merece ser nomeado. Como ele é o ser mais sujo e transante que conheço nesse mundo mundano, o alcunharei de El Copulador.

Bem, admito que quando cheguei à casa de El Copulador, já não era detentora de minhas plenas faculdades mentais. Lembro apenas que alguns dos cachaceiros e cachaceiras que passaram o adorável dia conosco iam dormir no recinto. Nesse ínterim, eu estava no quarto batendo um animoso papo com uma jovem loira gostosona, que era a fudeca do dia de El Copulador. Depois disso, a lembrança que eu tenho em minha mente é: eu, no banheiro de El Copulador, concretizando o contrato com meu P.A. – ou seja, dando freneticamente -, ao que, em uma manobra sexual sem sucesso, dei de cara com a porta do Blindex.

PÁH! SHIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII! Esse foi o som que embalou nossa primeira noite de intenso amor. O vidro quebrou todinho em cima da gente, o que causou pomposas escoriações em nosso corpo. Foi um banho de sangue. A loira gostosona, já dormindo, ouviu o barulho e entrou em desespero, achando que havíamos morrido lá dentro. Já El Copulador, muito preocupado com nossa saúde, sequer abriu os olhos, apesar do estrondo que foi ouvido pela casa toda, e se limitou a dizer um singelo “eles estão bem”, frase embargada em uma voz deveras sonolenta.

Meu amigo P.A., desejoso em dar uma explicação sobre o ocorrido, saiu pelado, de pau duro, com o braço todo ensanguentado, dizendo: “Quebramos o seu blindex”. Após, voltou para o banheiro e, apesar de o chão estar coberto de cacos de vidro, continuamos copulando sem parar. Não vou nem dizer que além do blindex, quase arrebentamos a pia, que também foi palco de nossas fanfarronices. Também nem vou citar que, como no dia anterior, eu ainda estava menstruada. E muito, diga-se de passagem.

Final da história: banheiro todo quebrado, marcas de sangue por todos os cantos, cacos de vidro espalhados pelo chão, pia com parafusos faltando, artigos de higiene todos fora do lugar. Imaginem uma digna cena de filme de terror. E como outros amigos – muito linguarudos – estavam presentes nesse peculiar dia, o Caso Blindex entrou para os anais da história, sendo até hoje comumente citado, quase um ano após o ocorrido. Inventaram musiquinha e tudo. E o pior... eu não me lembro de praticamente nada, mas nada mesmo, sequer faço ideia de como é que a gente foi parar no banheiro.

O que importa é que, depois disso, meu amigo P.A., que hoje se autodenomina Sr. Blindex, resolveu meus problemas várias outras vezes. Mas o mais impressionante, é que em TODAS essas vezes alguma merda estrondosa aconteceu. Foi um tal de capô de carro ficar todo amassado, velhinhos exigindo que parássemos de fornicar em público, sexo na porta da casa dos outros às 9hs da manhã... e apesar de tantas histórias toscas, nossa amizade em nada mudou.

Hoje, meninas, podem ficar tranquilas. Nossos órgãos vaginais e penianos não têm mais nenhum tipo de contato. Não temam com a minha presença, não vou mais surtar exigindo que ele me leve embora porque estou com muita vontade de dar, independente de ele estar acompanhado ou não. Nutro por esse distinto rapaz um amor gigante, ele é meu amigo de verdade. Só que, amizade por amizade, chega de sexo amigo, preciso tomar vergonha na cara e dar minha pepequinha para alguém que não esteja habituado às minhas crises bipolares.
E moral da história: Nós somos a prova concreta de que AMIGOS PODEM TRANSAR, SIM. Basta saber administrar o negócio direito.

22 de nov. de 2010

Blindex - O mito (Parte I)


Sou uma menina muito bem resolvida. Estava sei lá há quantos séculos sem dar uma boa transada, e como não consigo ficar muito tempo sem concretizar o ato físico do amor, decidi apelar para um sexo sem compromisso com um P.A. (Pau Amigo). O problema é que nem isso eu tinha, questão facilmente resolvida, levando em conta toda essa minha estonteante beleza mourena.

Foi mais ou menos assim. Um amigo por quem sempre nutri um grande carinho fraternal – e que, por um acaso do destino, eu já havia dados uns beijinhos bestas, logo assim que nos conhecemos -, me ofereceu uma carona pós-festa. Levemente alcoolizada, para variar, adentrei ao veículo automotor, sem imaginar que qualquer pensamento malicioso se aproximasse da massa cefálica de meu gentil companheiro.

Eis que durante o trajeto à minha humilde residência, ele começou a demonstrar leve inclinação ao meu ungido corpinho. Ao que eu lembrei que ele morava na mesma rua em que a festa ocorria, então, por que raios estava me levando para minha casa, localizada do outro lado do continente? Outros amigos que moram próximos de mim também estavam indo embora, eu não tinha problemas de retorno ao lar. Subitamente, senti uma leve maldade no que outrora fora uma inocente carona.

Na hora de me deixar, em vez de apenas parar o carro para eu descer, ele estacionou. E-S-T-A-C-I-O-N-O-U. “Hum... ele tá querendo um assunto”, pensei eu, cá com meus botões. “Como não peguei ninguém hoje, vou dar uns beijinhos descompromissados nesse indigente”. Fiz o meu papel e, muito franca, agarrei mesmo.

Flashback de contextualização
Ele sabe que sou dessas que quando querem, fazem por onde. Afinal, a gente só tinha ficado uma vez antes porque, como o tapado era um enrustido que não tinha capacidade de revelar toda a chama do amor que queimava em seu coração por mim, eu acabei tomando uma atitude. Eu é que não ia ser maluca de virar BEFIF (best-friend-de-infância-forever) de uma pessoa que eu queria dar uns beijinhos, sem antes dar esses beijinhos. Nossa relação já estava fadada à pura amizade, só que eu odeio sentimentos encubados. Aproveitei um dia em que nosso sangue tinha na composição cavalares doses de teor etílico e parti para o ataque. Não, os homens não são os únicos sujos que se aproveitam da bebedeira alheia.

O contrato
Voltando à carona-maliciosa-outrora-inocente. A gente deu uns beijinhos e tal, e como ele sabe que sou cheia de frescura, nem se engraçou muito – leitores, é sério, sou meio sandyzinha, mesmo. Para deixar alguém colocar a mão nos meus peitinhos é um parto, apesar de já não ter lá mais 15 aninhos. Juro que eu não queria ser assim, mas eu sou. Bem provavelmente deve ser por isso que eu quase nunca pratico o ato da fornicagem.

Enfim. Não deu muito tempo e ele queria ir embora, ao que rolou o seguinte diálogo:

- Ah, tá. Você é muito espertinho, né? Só porque eu sou só sua amiga, você já tá querendo ir embora?
- E você tá achando que só porque é toda bonita desse jeito, vai ficar me enrolando?

Plin. Caiu a ficha. Ele ia ser meu P.A, como eu não havia pensado nisso antes? Apesar de sermos muito amigos, ainda não tínhamos chegado àquele nível “não foderíamos de jeito nenhum”. Então, muito direta como sou, fiz a seguinte proposta:

- Poxa, amigo, eu tô há maior tempão sem transar. A gente podia fazer um sexo sem compromisso, sem MUDAR EM ABSOLUTAMENTE NADA NOSSA AMIZADE. Eu só quero FUDER. Aí, sempre que eu precisar, eu te aviso e a gente transa. Mas continuamos sendo SÓ AMIGOS. Eu continuo pegando meus namoradinhos e você continua com suas gambiarras da vida, como se nada tivesse acontecido.
- Já é, vamos transar agora!
- Agora não, tô pingando (eufemismo para menstruada).
- Porra, tu fica 20 mil anos sem dar, e quando decide dar, você tá menstruada?
- Pois é. Deixa pra outro dia. Mas eu vou avisar de novo, a gente vai só transar, eu quero só sexo. Se nossa amizade for mudar alguma coisa por causa disso, então eu não quero.
- Pode deixar, não precisa ficar repetindo, eu não sou igual a esses psicopatas que você fica.

Como um bom amigo, eles estava acostumado a ouvir minhas peripécias nos caminhos da paixão, e sabia que, não sei por qual motivo, só atraio homem doido, desses que te pedem em casamento assim que te conhecem. Nunca vi ter um imã para gente maluca como eu. Deve ser por isso que eu tenho essa total aversão a dar minha refinada flor para pessoas que não façam profunda parte do meu círculo social. Vai que eu sou fortemente psaicopateada? Tensão.

Mas, enfim. O que importava é que nosso trato estava feito: amizade com direito à regalias especiais. Eu – aleluia! – ia dar uma cruzada gostosa, descompromissada, sem riscos de estresses posteriores.

Fim da primeira parte. Amanhã, cenas do capítulo final.

21 de nov. de 2010

Perdida no País das Maravilhas


A certidão de nascimento poderia antever o futuro. O pai, fascinado pelos livros, registrou a filha com o nome de uma das maiores heroínas da literatura nacional. Cresceu lendo Machado de Assis, José de Alencar, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa. No início, o aglomerado de folhas encadernadas com capa grossa eram apenas presentes. Com o tempo, passou a comprar seus próprios exemplares, e se apaixonou pela linguagem simples de Garcia Marquez, pela poesia de Clarice, profundidade de Dostoiévski, questionamentos de Vitor Hugo, obsessões de Proust.

Sua vida se resumia a ler, ler e ler. Ela se transformava e se reinventava naquelas personagens, vivia suas emoções, decepções, aventuras. Tudo o que não era, poderia ser enquanto lia. E mergulhava assim, como uma menina que se perde na tentativa de seguir um coelho; passava dias e dias sozinha, como um jovenzinho em seu planetinha, feliz por ter sua flor para regar. Era tragada por cada uma daquelas linhas, engolida no torpor da fantasia.

Queria tanto uma vida diferente de tudo o que vivia, que para encontrar um pedacinho da paz que nunca conheceu, preferiu, sem perceber, viver as vidas inventadas por tantos outros, quem sabe tão atormentados quanto ela. E quando apenas ler já não mais bastava para satisfazer sua fome, começou a escrever. E como escrever passou também a ser pouco, começou a rabiscar o papel com muita fúria, enquanto sangravam seus dedos, sagrava a tinta azul.

E quando rabiscar se tornou pouco, ela saiu para viver, mas a vida também era muito pouco, pouco perto de toda a fábula que criava, que lia, que queria. Precisava de um mundo onde sempre experimentasse o mais extremo de todas as sensações, presenciasse as mais inusitadas situações. Mas o que via, ali no real, era muito pouco. Era preto e branco demais. Mesmo quando agia de uma maneira que era vista como anormal por todas aquelas pessoas, normais demais no seu modo de ver. Ela simplesmente não se importava mais com julgamentos.

E mesmo sendo tudo em sua vida tão absurdo, tão intenso para tanta gente – mas nunca o suficiente para ela -, não desistia, e nessa caminhada ia se perdendo entre o real e o imaginário. Suas letras já não bastavam. Mesmo os heróis da ficção, representavam pouco agora. Ela precisava de mais, e nessa ânsia foi criando uma personagem de si mesma, baseada nos trechos mais expressivos de todos os livros que havia lido, durante toda sua vida.

Foi assim que Capitu enlouqueceu.

18 de nov. de 2010

poética das cabanas


a folha espera pingar as letras
só caem gotas de chuva

a flor espera borboletas
a pedra, besouro de asas escuras

o galho menstrua entre as hortênsias

um sêmen de silêncio inunda
o útero barulhento do poema

poema feito em parceria com fred girauta

17 de nov. de 2010

Atriz


Por alguns segundos ficou estática, enquanto a multidão observava. Mas saiu do torpor e explodiu como um grito a cada frase encenada, cada sentimento fingido. Sabia que não havia um único olhar naquela sala que não fosse para ela, e ficava assim, envolvida por uma sensação como estivesse drogada. Se afogava em um prazer não comedido.

Uma santa, uma prostituta, uma louca. Reinava naquela peça, enfeitiçava uma plateia que aplaudia e vaiava. Egoísta, orgulhosa ou ingênua, quem sabe, não dividia a luz dos holofotes, que de tão fortes, sequer permitiam enxergar quem a admirava. Ela não tinha ideia, não importava se faria diferença ter.

Pouco sabia além de que o público às vezes a odiava, às vezes a amava, mas sempre ficava extasiado com sua intensidade ao se expressar. Mas do que adiantava toda aquela paixão falsa, exagerada, se ela estava sozinha, perdida em um palco de tamanho desproporcional aos seus sonhos roubados, esperanças esquecidas, verdades fingidas, realidades destorcidas?

Ela e as palavras que tanto interpretou, insistiu, berrou.

Mas ninguém percebeu, ninguém viu.

16 de nov. de 2010

para Guy Debord - com amor




E se você não se expusesse tanto?
Leu a pergunta num outdoor raspado na auto-estrada. Quis se questionar, mas precisava estar atento ao tráfego das curvas sinuosas. Pensou no último tweet que havia postado minutos antes de ler a frase questionadora. “Acabo de ver minha vizinha chupando um cara na BR 101”. O tweet, claro, era tão insignificante quanto o sexo imoral, e mais insignificante ainda que o anseio de revelar-se, dia a pós dia no balé concupiscente da mediocridade virtual do real, que só refletia o que de fato vivia. Embora soubesse disso, quis twittar sobre o acontecido.

15 de nov. de 2010

Justino merece um brinde


Justino é um rapazote deveras peculiar, que merece diferenciada atenção. Justino é daqueles que não recua diante do preconceito, hipocrisia entre outras mazelas afins. Justino abre sem pudores todo seu terno coração na presença de seus consortes, revelando intimidades ora custosas de serem aceitas nessa venal sociedade que agregamos.

Mas por que Justino merece tamanha veneração? Porque ele é visionário, um agente desagregador nesse emaranhado onde tudo é igual. Seus pêlos pubianos, por exemplo, são comparados as mais densas e ainda não exploradas matas atlânticas. Com muito orgulho, ele afirma que não gosta de aparar os cabelinhos do saco, pois se apraz em sentir aquela pelagem pomposa em seus culhões, além de ser uma divertida distração encaracolar os salientes meninos, enquanto assiste TV ou bate um papo saudável com os amigos.

“Mas você é um porco, Justino. Aposto que se tu arriar as calças, eu nem vou achar o seu pinto. Deve tá perdido no meio dessa penugem toda. Só queria ver o que você acharia se pegasse uma mulher ursona”, repeli eu, com toda minha não-aceitação-ao-diferente. Mas eis que recebi admirável revide diante de tamanha hostilidade: “Já peguei! Adoro, foi muito bom!”. Justino é desses que gostam de se divertir no pique-esconde-da-xana-peluda.

Se Justino poupa gastos homéricos despendidos pelas mulheres em sessões de tortura na câmara daquelas depiladoras mal amadas, que sentem prazer em nos ver sofrer enquanto esfolam nossa ora delicada flor com aquela melecada quente, ele também poupa o próprio bolso. “Nossa, Justino, que cheiro bom... que perfume é esse que você está usando?”. Pensam que ele respondeu “um perfume caro que me custou os olhos do cu”? Não, senhoras. “É Rexona mesmo! O roll-on! É muito mais prático e rápido!”.

E por falar em cu, Justino não se envergonha de admitir seus prazeres anais durante o ato do coito. “Pina, adoro levar um linguada no cu! Eu fico igualzinho a um bebê na posição de trocar fraldas!”. E enquanto ele faz essa bombástica declaração, começa delicadamente a simular uma singular posição, assemelhada a de uma rã no cio, pronta para copular. Assim, na frente de todo mundo. Sabemos que, verdade seja dita, todo homem se amarra em levar uma acarinhada no brioco, ficam deleitosos quando sentem uma catucadinha no botão anal. Mas são poucos os que assumem, por isso, sou fã do Justino.

Justino não se rende a indústria cultural que te vende a necessidade compulsiva de consumo de produtos caros, como uma forma de ostentação. Justino usa Rexona mesmo, igual o pedreiro lá de casa, sem medo de ser feliz. Justino não quer ver pepequinhas carecas, ele quer se fartar no meio da selva amazônica e ser presenteado com inúmeros brindes entre os dentes, após um sexo bucal-vaginal. Justino não quer apenas uma mamadinha no pequeno gigante, ele quer uma mamadinha com direito à linguada na rodelinha de onde sai feijão.

Justino é vanguarda, nessa parca sociedade composta de uma massa que se diferencia apenas em sua igualdade. Justino é pioneiro, nesse meio hipócrita e moralista onde não se pode admitir o gosto pelo afago no cu. Justino é retro, quando retorna aos ancestrais e cultiva a proteção peniana com tufas e mais tufas de pêlos cacheados. Justino é um exemplo a ser seguido. Justino é rei. E é por isso, só por isso, que Justino merece um brinde.

7 de nov. de 2010

Cuidados básicos com a vagina


Meninas, a lição de hoje é: não dêem suas pepequinhas sem camisinha. E rapazes, não usufruam pepequinhas sem antes encapuzar a bananinha. É muito simples. Um dia desses alcoolteceu uma fornicada não programada, quando vi, já estávamos no ato do coito sem que qualquer prevenção fosse devidamente adotada. Logo no dia seguinte, começou a me dar umas pinicadinhas na vagina, ao que muito preocupada, fui correndo para o consultório da médica que com tanto esmero cuida da minha bela e bem aparada flor.

Ela disse que estava tudo bem, que isso acontece mesmo e me receitou um remedinho para aliviar o incômodo, que naquele momento só fazia aumentar. Eu andava na rua sentindo aquela coceira toda, e não podia ficar colocando a mão, e era uma coisa muito doida porque eu ficava nervosa demais e começava a fazer gestos compatíveis com os de um bicho no cio, na vã expectativa de me aliviar.

Fiquei muito feliz com a pomadinha milagrosa e ansiava ferozmente chegar logo em casa para untar meu botãozinho frontal com aquela divertida pasta colorida. Só que quando eu estava quase chegando, encontrei uns amigos que me convidaram para passar algumas poucas horas de pura irreverência em um agradável botequim, que entre as especiarias servidas estão incluídos ovos de cores diversas, carne assada de leve tom esverdeado e alguns salgadinhos aparentemente apetitosos. Claro que eu não pude rejeitar tão gentil gesto de carinho e consideração comigo.

O problema foi que eu comecei a beber e o negócio não parava de coçar, e quanto mais eu bebia, mais minha pepeca ardia. E foi me subindo uma coisa que eu não sei, e foi queimando tudo aqui dentro, e eu pensava ai que dor, ai que dor, até que uma hora eu não aguentei mais e berrei muito, muito, mais muito alto: “Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai! Minha vaginaaaaaaaaaaa! Tá ardendooooooooooo!”.

Todos os gentis senhores presentes naquele modesto estabelecimento dirigiram seus olhares para mim, sem nada entender, enquanto eu me coçava, mas eu me coçava, aaaaaaaah mas eu me coçava com vontade. Foi uma vergonha, fiquei muito embaraçada. É por isso que agora eu prefiro não arriscar e só ando muito bem prevenida, para evitar qualquer tipo de contratempo desse tipo. Agora, eu já aprendi: nada de praticar o ato físico do amor sem vestir o bonequinho antes.

* Esse texto é uma crônica que não apresenta relação com a realidade. Minha pepequinha, como sempre, vai muito bem, obrigada.

4 de nov. de 2010

Só Jesus

A religiosidade é uma coisa curiosa. Cura doenças do corpo e da alma, recupera riquezas e, em casos extremos, dribla a própria morte. Vide o que fez Jesus, aquele compadre faceiro. Mas 2 mil anos e uns quebrados depois, é cruzar uma esquina para ver com os próprios olhos - ou ouvir, em alto em bom som, graças à popularização de microfones e amplificadores - as consequências de um bocado generoso de fé.
Outro dia, em um laboratório de análises clínicas, se deu uma manifestação grandiosa do poder da mão de Deus. A fila para o atendimento era grande, e ir ao banheiro era uma questão de tempo. Afinal, o leite com toddy de todo dia não aguenta tanto tempo sem dizer a que veio. De dentro do reservado, era possível ouvir a conversa de duas moças de voz abafada.
- Estou ansiosa para o resultado do exame...
- Calma, vai dar tudo certo. Se você não se convencer, você repete.
- É... né? - refletia em voz alta, buscando aprovação. - Fico com medo... Aids é um problema muito sério... mas além de toda a polêmica da doença e todos os riscos de saúde, fico mesmo preocupada com a minha vida. No sentido metafísico mesmo.
- Sem drama, né. Que sentido metafísico o que... Fica dando adoidada... É nisso que dá.

Nessa hora, eu saía do meu cubículo. As duas freiras me olharam assustadas. De olhos arregalados, murmurei um Amém. Que Deus abençoe minhas mãos não lavadas.

Campanha "Gostosa Forever". Entre nessa corrente!


Ouvi ontem de um amigo: "a coisa mais triste da vida é ver uma mulher embuchar". O comentário não foi aleatório. Nos últimos dias em que estivemos juntos, comi feito uma draga. Sua frase de efeito a là Nelson Rodrigues foi como um leve tapa com luva de pelica. Mas desde então, comecei a analisar melhor a oração. E não é que é verdade?

Minhas últimas experiências comprovam que ter cérebro não vale de nada; isso quando - pasmem - se torna um mal negócio. Mulher inteligente, culta e interessante demais é mal-vista em círculos onde reinam a ignorância e mediocridade. Mais vale uma bunda e um bom par de peitos. A beleza atrai mais amigos que um bom-papo. É estatística. Procure nas redes sociais. As mais belas são as mais populares. Aprendemos isso desde pequenas, nos infindáveis blockbusters americanos da Sessão da Tarde.

O cenário é sempre o mesmo: o High School, ou Ensino Médio, cá pra nós. A líder de torcida sexy arrasa corações e humilha a nerd-sardenta-de-aparelho-e-óculos, isso quando a boazuda não é a melhor amiga dela, porque afinal de contas desgraça pouca é bobagem! A pobre da CDF passa o filme todo em crise, é a melhor aluna da escola, os professores a adoram, mas... Ela é feia que nem o capeta! E aí, aí meus caros leitores, é que entra a lição de nossas vidas: ela passa por uma mega transformação, um verdadeiro Extreme Makeover fashion. Fica linda, chega no baile arrasando e conquista, enfim, o cara dos seus sonhos (geralmente o capitão do time de futebol ou beisebol, tanto faz!), afinal nossa existência se resume a isso, não é?! Andar atrás do príncipe encantado!

Qual a conclusão que chegamos? Só uma, lógico: pra que, pra que, meu Deus, ler Doistoiévski, Clarice, Leminsky? Falar de artes, teatro, cinema, música? Pra que? Nada disso vai valer a pena se teu traseiro não estiver em pé, com algumas celulites, vá lá, mas arrebitado E com marquinha de biquíni.

Assim, tomei uma decisão sábia e importante: vou vender meus livros, poupar a grana do Odeon e das peças que ia ver e leiloar meu notebook. Vou pegar a grana, fazer uma lipo, comprar um moderador de apetite e um belo fio-dental. A partir de agora, dou expediente na praia. Quem sabe até arrumo um marido rico?

Como disse outro amado amigo meu: em terra de medíocres, quem tem cérebro é inútil.

Um quase ménage

Após relatar aqui o ménage que não rolou com meus estimados consortes, me ocorreu um fato peculiar. Fui fortemente impulsionada a quase cometer de verdade esse ato afetivo grupal, com direito a todos os tipos de sacanagens durante o coito. Porém, minha síndrome “sou Sandy” me obrigou a refutar o gentil – e quase forçado convite.

Deixe-me relatar o acontecido. Estava eu, como sempre, feliz e sorridente em uma festa, revelando meu corpinho escultural em um vestidinho bem curtinho, nos sobes e desces tão aclamados no populesco ritmo do funk carioca. Ao que uma amiga me chamou para dar uma leve requebrada ao lado dela e de seu viril parceiro. Normal. Lá fui eu, muito inocente, empinar minha humilde bundinha.

Dançamos horrores durante a noite toda enquanto ingeríamos líquidos de elevado teor etílico, no clima mundano das boates metropolitanas. Ao que na hora de ir embora, fiquei chocada com o tamanho da audácia do púbere pimpão. Com nós duas no carro, ele cismou porque cismou que ia entrar em um motel. E vocês acham que a namorada dele, a jovem por quem nutro um carinho puro e fraternal, se indignou com a situação??? Nãaao, senhores. Ela se escangalhava de rir, achando tudo muito engraçado.

Cara, pelo amor, não rolou sequer um amigável desenrolo para saber se eu toparia a tal da fornicação. Até porque, eles já deveriam imaginar que minha resposta seria um redondinho “não, muito obrigada, deixa para outra oportunidade”. Bem franca, muito mal eu estou transando com um só. Agora, imagina ceder meu corpinho assim, para duas pessoas? Minha última experiência sexual foi muito romanticazinha para eu levar tal choque assim, sem preparação psicológica alguma.

A situação intempestiva poderia ter me deixado revoltada, muito ofendida, mas a parada foi tão tosca, que não tinha como não cair na gargalhada. Até porque eu fiz questão de mostrar para todas as recepcionistas dos motéis que ele tentou adentrar que havia uma terceira pessoa presente no veículo automotor. E como sabemos, pelo menos oficialmente, três pessoas não são permitidas nesses aconchegantes esconderijos da paixão.

A negociação
Cara, aquele indigente bêbado tentava de tudo para convencer as recepcionistas a deixarem ele entrar com o carro. E não adiantava eu dizer que não ia dar para ele, muito menos deixar rolar uma pomposa briga de aranhas com minha amiga. Ele fingia que não me ouvia e usava os argumentos mais absurdos com as atenciosas senhoras que laboravam na entrada do recinto. “A gente só vai dormir, eu tô falando sério!” ou “quero uma suíte com piscina... a gente só quer fazer aula de hidroginástica!”. Eu juro, mas eu juro de verdade, que ele falou essas coisas. Agora, me diz... tinha como não passar mal de rir com isso?

Mas não é que teve uma espírito de porco que resolveu liberar a entrada? Aí foi minha hora de agir. Com meu jeito muito sutil de ser eu dei um pulo e berrei. “Nãaaaaaaaaao. Eu já falei que não vou entrar, não aceite o dinheiro dele”. Confesso que pareceu que eu estava à beira de um estupro e, de fato, se analisarmos friamente a situação, não faltou tanto assim, apesar do clima ter sido de pura descontração. E eu ainda acho minha vida monótona e sem sal... Putapariu, essas coisas só acontecem comigo mesmo.

Por fim, ele se convenceu que da minha pepequinha não sentiria nem o cheiro e resolveu me deixar em casa. Claro que para esse processo ser mais rápido, eu tive que ludibriar o rapazote, prometendo mundos e fundos, como uma viagem romântica à três, num inesquecível final de semana na costa de nosso animoso Rio de Janeiro. E o trouxa acreditou.

Para compensar, descontou todo o seu tesão reprimido em sua querida namorada, após meu delivery. Ele, que estava com disposição para duas, extrapolou tudo em uma só, ao que a pilantra conivente de minha amiga ficou toda assada no dia seguinte. Pois muito bem feito, aquilo foi castigo, por ela ter se aproveitando de minha inocência e me jogado naquela sacanagem em potencial, depois de eu já ter bebido cerveja, vodca e até champanhe. Ou seja: eu estava muy looouca de bêbada, com poucas condições de raciocínio.

Enfim, de minha parte, fica aqui apenas um reflexão. Não sou tão puritana, não vou dizer que a hipótese de uma surubinha seja totalmente descartável em minha vida. Mas ver o homem que eu amo comendo outra mulher, ah, mas isso não. Podem me chamar de moralista, de fresca, da porra toda. Mas quando o amor bate em meu peito, SOU EGOÍSTA, SIM. Essas coisas caóticas só são passíveis de experiência no ritmo da solteirice plena. Pelo menos para mim. Que me perdoem os casais liberais, nada contra. As casas se swing bombam exatamente graças a esse próspero negócio: o da junção-do-amor-livre-com-a-sacanagem-grupal.

Lição de moral do dia: Nunca mais entro sozinha e bêbada no carro de um casal de amigos, sem deixar bem claro antes que não darei para eles. Ou não.

30 de out. de 2010

A Vanessão, minhas considerações.

Às vezes eu me sinto um travesti...
No instante em que me enxergo à margem, me sinto uma mulher no corpo de um homem, desfigurado pela ansiedade do abrigo. Um corpo massudo, que grita guturalmente sem ninguém ouvir, dançando e se movimentando na música da esperança.
No entanto, ninguém ouve, o grito vai de dentro para dentro dele mesmo, ecoando ao nada, passando longe dos tímpanos gastos, longe dos olhos refluídos.
Me sinto um travesti quando atropelo meus próprios contratempos, os que são criados pelo meu âmago contristado de tanto perder a guerra.
E quando me vejo com as mãos nas partes íntimas, feridas de tanto atritar-se com o mundo que não me alcança, me sinto um travesti de coração partido à beira do caminho.
Perdida numa penumbra de solidão corpórea que não se atrela ao pensamento concatenado de pessoas triviais, eu me sinto uma mulher, presa ao corpo de um homem.
Trajando roupas não compreendidas, à noite, me sinto um travesti no meio da imundice inexplorada de ideias desocupadas.
Me vejo precisamente igual a um travesti quando me falta conhecimento, quando sei que sou laica ou, quando, num ímpeto de desespero, por consentimento, mijo em pé, anulando a genética do meu cadáver de mulher.
Me sinto um travesti quando quero pulsar a arte para fora de mim e a língua cingida me esgana por dentro, pendendo cansada para fora do meu homem confuso.
E quando preciso ser abrutalhada e rude por sonhos de aventuras incandescentes, não me reconheço célere no espelho. Entre as pernas, experimento a redenção que serve para alimentar a fome das entranhas em brasa. Meu triunfo e meu declínio. Meu falo, que fala por mim, quando eu me calo. 

28 de out. de 2010

Ditadura consentida


Deve ser duro para aqueles que viveram durante a ditadura militar e tentaram lutar contra o sistema político da época, relembrar tempos tão sombrios; sofreram torturas inimagináveis nos frios e úmidos porões; dormiram ouvindo gritos desesperados dos amigos, pessoas queridas, sem poder estender a mão para ajudar, porque sequer se aguentavam. Suportaram (ou não) atos humanos – nada de dizer desumano, apenas o homem é capaz de cometer tantas atrocidades contra seus semelhantes. Deve ser duro ter a sensação de impotência e ver as esperanças desmoronarem, quando havia tantos sonhos, tantos planos, tanta expectativa de um futuro melhor, um futuro em que a liberdade seria uma possibilidade.

Deve ser muito duro para mães, filhos e filhas, esposas, maridos, não saberem até hoje o que de fato aconteceu com aqueles que tanto amaram em vida. Deve doer não ter nunca recebido uma resposta, ao menos uma palavra de consolo garantindo que o sofrimento já passou, tudo acabou, descansa agora em um lugar melhor. Mas essas palavras não foram ouvidas, famílias inteiras se mantiveram durante muito tempo agarradas na desesperada esperança de que alguma resposta chegasse. Mas nunca chegou. Deve ter sido duro. Talvez ainda seja.

Também deve ser muito duro para os pobres diabos que ficaram e sofreram em nome de uma ideologia besta, sem ter perdido todo o romantismo que corrói mentes muito cegas e teimosas, perceber a que ponto a sociedade chegou. Bem longe da ilha Utopia, como descreveu Thomas More, e como por incrível que pareça, alimentou alguns muitos corações inocentes. A sociedade parece ter estacionado na ilha da Ilusão Democrática, local onde os cidadãos são bombardeados a todo o momento por informações tão comuns, tão iguais, que não vêem a mínima necessidade de sair da mesmice e conhecer novas águas. São engolidos por uma cultura que insere valores como o narcisismo, propaga a alienação e o conformismo, vendendo tudo isso como progresso social sustentável.

É muito fácil simplesmente culpar os governantes pelo atual total estado de torpor humano, quando ninguém é capaz de levantar a voz para de fato contestar, para dar a cara à tapa. Os poucos que se prestam a esse papel, ou são condenados por não conseguirem resultados (dos parasitas que apenas sugam seus esforços, sem dar nenhum apoio além da cobrança) ou são apontados como anarquistas, vagabundos, baderneiros. O que impede a mobilização não é o medo ou qualquer tipo de intimidação direta dos órgãos que detém o poder. Simplesmente as pessoas são doutrinadas a se deixarem levar, sem qualquer questionamento.

São incapazes de ver sua mediocridade, seu total descaso e responsabilidade pelo limbo em que se encontram. E como o ser humano não tem competência para admitir os próprios fracassos, ele arranja alguém em quem colocar a culpa. E culpa aqueles que eles mesmos colocaram no poder, sem adotar para essa escolha critério algum. Afinal, o Collor está no senado. Garotinho foi eleito deputado federal no Rio de Janeiro e Roriz teve o maior número de votos para o cargo de governador do Distrito Federal, onde se localiza a capital da nação. Mas não posso ser tão injusta com esses senhores. Da mesma forma que o ser humano não aceita seus próprios fracassos, ele também não desperdiça a oportunidade de exercer poder e usufruir os frutos que esse poder dá.

Quando a impunidade é latente e a população é estúpida, não há governante que não tire proveito. O bicho homem tem dessas coisas. E no final das contas, não sei se tudo mudou demais ou se as coisas continuam na mesma. Ativistas saíram dos porões da ditadura, para que o cidadão comum pudesse mergulhar na escuridão do total descaso, desinteresse e alienação, decompondo-se por lá mesmo, sem perceber o cheiro pútrido que exala de suas carnes. Já os detentores do poder descobriram uma maneira muito mais fácil e divertida de se manterem no Olimpo. Que a ignorância é necessária, todo mundo sempre soube. A sacada de mestre é quando o excesso de informação torna a ignorância uma opção. Mas não culpemos a tecnologia. A culpa é nossa mesmo.

27 de out. de 2010

Ménage sem ménage


Ah, o etílico... sempre nos proporcionando momentos memoráveis, que guardamos sem remorsos ou escrúpulos em nossos humildes e palpitantes coraçõezinhos. Agora, por exemplo, acabo de relembrar uma agradável ocasião que vivenciei com queridos consortes, tão propícios ao álcool quanto eu. Imagine você uma cama de casal, mais quatro púberes na flor da idade, com hormônios em pleno êxtase. Some a tudo isso uma quantidade razoável de bebida alcoólica e sinta o romantismo no ar... resultado? Dois filhos das putas copulando do meu lado, enquanto eu não podia fazer o mesmo, já que o ser vivo portador de um pênis que estava mais próximo, não ficaria de pau duro comigo nem fudendo. Mas nem fudendo mesmo.

Foi mais ou menos assim: degustei do prazeroso líquido com leve toque de cevada em sua composição o dia inteiro e, à noite, só queria dormir. Mas Codorninha Debochada estava sofrendo de uma puta dor de corno, e lá fui eu (bucha) ser solidária. Saímos com o José Cuervo para exibir nossos cobiçados corpinhos em uma festa a qual não fomos convidadas: ser penetra é uma arte. Passamos o fim da noite bebendo em um boteco e, como não tínhamos mais o que fazer, começamos a berrar meu amigo-que-não-me-come no rádio. Ele degustava de furtivos momentos solitários em seu lar, doce lar, ao que prontamente aceitou nosso saudoso convite, sem esboçar qualquer tipo de resistência como “porra, vocês estão me chamando para beber às 4hs da madrugada?”. Foi terminar a noite se alcoolizando com seus inseparáveis coleguinhas, como qualquer bom alcoólatra faria.

Desconhecendo até hoje o agente propulsor de tal ação, apenas sei que decidimos encerrar a dispendiosa noite em uma não-muito-confortável estadia na casa do Jose, às 6hs da manhã. Digo não-muito-confortável porque havia apenas UMA cama. Em contraposição, éramos QUATRO. Mas isso não seria problema algum se, depois de deitados, Codorninha e Jose não tivessem iniciado o ato do coito, assim, ao nosso lado, como quem não quer nada. Colocaram em prática a ação da penetração do pênis na vagina bem ali, fornicando debaixo dos mesmos lençóis que a gente.

E eu, que estava há mais de um mês sem levar uma boa de uma botada no botão frontal, quase chorei, porque nem nesse mundo nem no próximo, o indigente prostrado ao meu lado ia conseguir consumar o enlace do amor carnal comigo. Restou a nós dois atochar o travesseiro nos olhos e ouvidos, já que não havia potencial ali para uma memorável orgia de proporções escatológicas.

Para nossa felicidade, o animoso casal ao lado não estava tão animoso assim, devido, também, ao grau afetivo desenvolvido depois que eles param de ter relações sexuais e se tornaram bons amigos. Aquilo foi apenas um, digamos, flashback de duração máxima de 15 minutos. Nossa agonia não foi tão delongada assim. O pior veio depois.

Jose Cuervo, não contente em me fazer presenciar seu pífio desempenho sexual, ao fim do coito levantou com aquela geba molenga e murcha, começou a pular todo pimpão como um sapo no cio, dizendo os seguintes impropérios: “Olha aqui, Pina! Você não queria ver a minha pica! Então olha, olhaaaaaaaaa!!!!!”. Cena degradante, óh, carambolas. O garboso rapaz fazia referências as vezes em que eu disse que queria ver a espessura de seu acariciado pinto. Mas eu pedia aquilo apenas porque sabia que ele NÃO IA ME MOSTRAR.

No final das contas, tivemos ali uma prova de amizade. Apesar da necessidade desesperada de cruzar, não demonstrei inclinação para dar minha flor para o meu bem apessoado amigo – nem ele tentou me comer, apesar de minha estonteante beleza mourena indígena; a quebrada dos outros dois foi esdrúxula e dormimos os quatro de conchinha, felizes e contentes. Até o Jose cair da cama durante o sono, pois segundo a Lei de Newton, dois corpos não ocupam o mesmo espaço ao mesmo tempo, e nós éramos quatro. Jose foi obrigado a dormir sozinho, no sofá duro da própria casa, enquanto seus três amigos desfrutavam de magníficos sonhos abraçadinhos, na prodigiosa manjedoura onde outrora ele degustara aconchegantes noites de conforto pleno.

Concretizamos assim, ao desabrochar do dia, sob os primeiros raios de sol, nossa eterna e desinteressada amizade, do ponto de vista copular, é claro. Muito mais divertido e profundo do que aqueles míseros pactos de ketchup seremos-best-friends-forever.

26 de out. de 2010

Cantadas na noite carioca


Apesar de ser uma donzela viril no auge da mocidade, desfrutando róseos momentos na tenra idade, estou só, sozinha, sem pegar ninguém. E direi o porquê, adoráveis leitores que por meio desta me acompanham. Não tenho mais paciência para as obscenidades que ouço nos buracos em que me enfio. E não pense você em referências sexuais, não, não. É que eu ando ouvindo coisas tão absurdas, que chegam a ser ofensivas aos meus deleitosos ouvidinhos. Por isso, muito francamente, não pego mais ninguém na noite, cansei.

Para ilustrar, contarei o singelo episódio que protagonizei em um desses agradáveis eventos da vida. Estava eu numa festa, linda e bela com todo o meu esplendor alto e moureno indígena, quando uma jovem infanta se dirigiu a mim e informou que um audaz mancebo desejava alguns minutos de minha atenção. Mandei às favas e disse que não, muito obrigada. Passados alguns minutos, ela veio novamente, insistindo naquela lengalenga, ao que mais uma vez expressei meu sentimento de desinteresse ao pretendente ludibriado.

Na terceira tentativa, em que ela disse que o algoz estava muito, muito, muito me querendo, resolvi analisar a fuça do moçoilo tão interessado, que não tinha culhão o suficiente para sequer puxar um papo saudável comigo e precisava desesperadamente da mediação alheia. Para meu espanto, era um gato. Então, pensei lá com meus botões: “Já estou bêbada, não tô pegando ninguém e o cara é bonito. Com qualquer cinco minutinhos de conversa, eu pego mesmo” - para você ver que, mesmo adotando uma seleção muito criteriosa, nem assim consigo me interessar por alguém que preste.

Enfim. Falei para a menina que eu conversaria com ele, ao que ela fez um aceno positivo para o amigo do rapazote que desejava meu corpitio – porque o palerma precisava de duas pessoas bancando o cupido para dizer apenas “oi”. Ao que o amigo dele teve a audácia de fazer um movimento manual, indicando que eu me aproximasse. Apenas virei para o lado e respondi gentilmente para a bondosa púbere que ansiava a formação de um novo casal: “Como é que é? Ele quer me conhecer e ainda quer que eu vá até lá? Ele que venha aqui, se quiser”. Porque sou bem dessas franquezas mesmo.

Ele chegou visivelmente alterado pelo etílico e começou a falar um monte de abobrinha, demonstrando claramente a necessidade quase patológica de contar vantagem sobre tudo. Mas vou encurtar o já delongado relato e ir direto para uma pobre reprodução de algumas passagens desse diálogo, que me fôra deveras peculiar.

Ele: Eu vivi na França durante uns cinco anos por causa do meu trabalho, tinha contato com todo mundo lá, conversava todos os dias com os gringos.
Eu: Je ne crois pas! Vouz pouvez parler en française avec moi, seulement un peu? Il est la premier fois qui j`ai l`opportunité de parler avec quelqu`un au-delá ma professeur.

(...) sonoplastia: grilos no ar.

Ele: Ah... você fala francês? ...sabe o que é? É que eu só conversava em inglês... você também fala inglês???? – perguntou, visivelmente preocupado.
Eu: Falo sim... – óbvio que nessa altura do campeonato eu nem tinha paciência para deixar o rapaz ainda mais constrangido, e preferi não pedir que ele falasse em inglês comigo.

Ele: Mas, além de jornalista, você faz mais alguma coisa?
Eu: Sou fotógrafa e dou aula na Candido e na Veiga.

Ele: Legal, eu também sou professor!
Eu: Eu não sou professora, apenas substituo alguns professores de vez em quando.

Ele: Ah, tá... mas eu também sou professor substituto lá na Veiga.
Eu: Ah é? Então me conta aí, em qual unidade da Veiga você dá aula?

Ele: Na Veiga lá de VICENTE DE CARVALHO.
Eu: (passada com o tamanho grau da mentira deslavada) Em Vicente não existe Veiga de Almeida.

(...) sonoplastia: novos grilos no ar.

Ele: Não, que é isso! Existe sim!
Eu: Não existe, não.

Nem preciso dizer que, pouco depois, ele virou as costas e foi embora, sem sequer (mas é claro) ousar insinuar que queria comigo algo mais do que um diálogo amigável.

Mas não termina por aíSemana passada, ocorreu outro saudoso evento que não posso deixar de relatar aqui. Um indigente bem aparentado, desses morenos altos e fortes que enchem o rabo de anabolizantes, começou a ser um baita de um inconveniente, soltando esporadicamente gracinhas ao pé deu meu ouvido como: “você está me deixando louco”, “você é a morena mais maravilhosa daqui”, “eu estou apaixonado”. Ao perceber que suas cantadas baratas sortiam como único efeito em mim um crescente ódio no coração, ele mudou de tática.

Pediu, de maneira muito cortês, alguns minutos de atenção. Com aquela cara muito contrariada, demonstrando claramente minha total falta de paciência para com ele, respondi um mero: “fala aí”. Ao que se desenrolou o seguinte:

Ele: Eu queria que você soubesse que tocou de maneira diferente o meu coração.
Eu: (Muito abismada) Ah, mas tu tá de sacanagem comigo? Tu não tem (SIC) vergonha de mandar uma breguice dessas pra mim, não???

(...) sonoplastia: grilos no ar.

Ele: Não... bem... sabe o que é? Você já deve estar acostumada a ouvir isso de todo mundo por aí. Mas eu quero que você saiba que EU SOU DIFERENTE DOS OUTROS. EU ESTOU SENDO SINCERO!
Eu: Continuo não interessada.

Ele: (Chocado) Mas por quê? Olha bem pra mim. Eu sou feio?
Eu: Não, você é o maior gostosinho, dá para o gasto.

Ele: Então, o que falta para a gente SE BEIJAR GOSTOSO AGORA?
Eu: Falta O MEU INTERESSE, E EU NÃO ESTOU A FIM.

Não preciso dizer que ele passou a merda da noite toda aporrinhando a porra do meu saco. O mais sensacional de tudo é que as pessoas acham um absurdo o fato de eu não estar ficando com ninguém. Como seu eu tivesse achado a boca e a pepequinha no lixo. Já ouvi um amigo dizer que, desse jeito, eu ia acabar ficando sozinha ad aeternum. Foda-se. Fico mesmo. Sem falsa modéstia, sou inteligente demais para aturar isso.