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19 de abr. de 2010

Apenas hoje


Tenho fome de vida. Sou corpo, alma, matéria, suor, lágrimas e sorrisos. Sou pura, sou pecado, posso ser quantas mulheres eu quiser. Devassa, insana, louca, santa. Virgem, vagabunda, bondosa, piranha. Posso espremer muitas horas e viver uma vida inteira em um minuto só.

Quero chorar tudo uma única vez, desejar morrer por alguns segundos, mas acordar no dia seguinte sedenta pelo calor do sol. Sou fonte de luz e me redimo de todos os pecados. Mas apenas amanhã. Hoje, e sempre hoje, só hoje, sou o que eu quero, sou tudo que eu puder.

Posso tomar todas as drogas, posso dançar até meus pés implorarem que eu pare, posso amar como louca horas seguidas e amanhã nem mais lembrar. Sou tudo, sou o mundo, sou universo, sou infinito.

Meu amor não cabe em mim, meu desejo consome todas as forças. E nessa loucura posso ser freira ou prostituta. Sou apenas uma mulher. Meu corpo arde em chamas, meu coração queima como o gelo, minha alma ninguém irá levar.

Sou água, sou vento, sou terra; sou fogo, sou pedra, sou luz. Sou tudo que sempre quis ser e não importa o que ninguém mais queira. Sou dor, sou sexo, sou vida. Sou perfeita. Sou o resultado, início, meio e fim do mais inocente amor que me habita e me possui.

Eu berro, eu rio, eu brigo. Ensino, aprendo, eu vivo. Abrigo as possibilidades de um “não” e a infinidade de todos os “sim”. Eu quero o sim, eu quero o tudo. Posso não querer nada, mas quero agora.

Sou a entrada, sou a porta sempre aberta para o rio correr.
Quem me tiver, que me ame, mas não se engane e perca a sanidade por mim. Porque se hoje me deito em tua cama, amanhã acordo, levanto. Parto, sigo, não paro, eu abandono. Não posso mais me perder de mim.

Ando, corro e não volto. Mas posso mudar de ideia. Hoje, vou em frente. Amanhã, quem sabe, eu olhe para trás. Basta eu querer. Sou toda entranhas, carne e sangue. Mostro tudo, ou não revelo nada. Me abro, me fecho, sou toda a divindade da luz.

Até onde você me quiser, até onde eu quiser, posso ser só tua. Mas nunca sou de ninguém. Sou minha, sou só minha. Sou eu... que quero, que vivo, que amo. Sempre, como se fosse a primeira e a última vez.

Mas isso é hoje, apenas hoje. Amanhã... amanhã será outro dia.

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