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27 de abr. de 2010

O telefone tocou novamente




Terça-feira de raios e trovões. Não, o dia nem está feio, o sol me dá um oi sorridente e me lembra que a vida é maior que a baia em que eu passo grande parte dos meus dias. Mas acordar com raiva da vida é mais tempestivo que um dia cinzento.


Desde as 3hs da manhã, rodoviários que estão em greve e acamparam em frente à garagem de sua empresa, em Água Santa, decidiram não usar bom-senso com uma informação preciosa: o celular da repórter que os entrevistou no dia anterior.


Ainda estava escuro, muito escuro, e o celular gritou a primeira vez. Assustada, corri para atendê-lo. Um motorista de ônibus me disse que cem motoristas não tinham ido para casa e passaram a noite ao relento, esperando negociação salarial e do ticket alimentação com a empresa - o que nunca aconteceu.


Tentei ser educada, polida, e disse que avisaria ao jornal. Não quis ofender ou hostilizar, por isso relevei o horário. Voltei para cama, meio desnorteada, sem conseguir baixar a adrenalina decorrente de uma ligação absurda no meio da minha madrugada.


Uma hora depois, o telefone tocou novamente. Acordei sobressaltada, como se tivesse levado uma punhalada no peito. Corri para o telefone. Eram eles de novo. Soltei um "puta que pariu" sonoro, e encerrei a chamada sem atender. Coloquei no modo de vibração. Não tinha porque meu companheiro dividir esse perrengue comigo.


Desde as três da manhã, foram 13 ligações. Sempre com o intervalo médio de meia hora. Isso acabou com meu dia. Quis gritar, mandar os grevistas enfiarem os celulares no meio do @#$¨, mas contive a finesse. Quando entrei no banho, olheiras a postos, o telefone tocou mais uma vez. Mi muchacho atendeu.


- Olha aqui, companheiro, ela já avisou ao jornal desde a primeira vez que você ligou. Jornalista também dorme, e espera o mínimo de responsabilidade da pessoa a quem confiou o número do celular pessoal. Se ninguém do jornal apareceu, é porque provavelmente existem milhares de outras coisas acontecendo, e o caso de vocês pode esperar. Da próxima vez, ligue para o jornal. Eles pagam repórter da madrugada pra isso.


Ouvi envergonhada pelos rodoviários, mas aliviada. Eles não me ligariam mais. Ledo engano. Não se passaram cinco minutos quando eu descia a escadaria do prédio e andava a passos curtos rumo à redação. Na última uma hora, o telefone tocou outras sete vezes. Se tocar mais uma, juro por deus e pelos meus quatro anos de faculdade e pelo salário que não paga esses estresses, vou mandar tomar no olho do #@!. E chorar no cantinho.

2 comentários:

  1. ahahhaahah. Muito bom! Super digno manter os contatos com as fontes, mas puta merda, heim?!Ah, adorei o "chorar no cantinho". :)

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Áhh, que fofo você comentar!!!