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14 de abr. de 2010

Levemente puta

Com os cabelos ainda molhados, passou lápis preto nos olhos e um batom vermelho na boca. Era tão branca que tais ousadias não seriam permitidas, a não ser por aquele dia, aquela noite. Se olhou no espelho, e notou que as pintas que tanto gostava sobressaíam, e os olhos negros pareciam ainda mais com uma nuvem carregada.

Abriu a sacola rosa-choque que trouxera do trabalho. No caminho para o conjugado abafado no Largo do Machado, parou em uma loja de roupas íntimas e comprou um espartilho. Vestiu a sensualidade como quem se fantasia, quase uma brincadeira de Carnaval. Sorriu e colocou o salto antes mesmo de terminar o ritual com o vestido favorito, mas algo cândido, antagônico ao desejo sexual reprimido. Queria ver como a veriam, uma safada da Atlântica, uma piranha de termas, talvez uma puta de luxo.

Se certificou de que na bolsa estava tudo o que precisava. Celular, maquiagem, camisinha e toalhinhas de papel. Antes de sair de casa e bater a porta sem olhar pra trás, virou para a parede o porta retratos que trouxera de Paris na última viagem. A foto dos dois em um café, sorrindo cúmplices, agora fazia parte do passado. Assim como a amizade com a vagabunda que, na noite de ontem, tinha roubado seu posto na cama com ele.

3 comentários:

Áhh, que fofo você comentar!!!